Saúde mental na quarentena: como lidar com o isolamento?

Saúde mental na quarentena: como lidar com o isolamento?

A quarentena, juntamente com preocupações com a saúde e as finanças, tem afetado a saúde mental de pessoas de todas as idades; OMS considera o cenário preocupante

No dia 14 de maio, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou um documento recomendando que os serviços de saúde mental devem fazer parte das ações de combate à Covid-19. Na ocasião, o diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, comentou que o impacto da pandemia na saúde mental se tornou preocupante.

Segundo ele, fatores como a falta de contato com outras pessoas durante o isolamento, a perda de membros da família, o medo do contágio e a queda da renda causam sofrimento psicológico, que pode levar ao desenvolvimento de quadros de ansiedade e depressão.

“O desconforto constante, quando a sensação de angústia ou frustração não vai embora, prejudicando o sono e causando mal-estar, é um indicativo de preocupação”, disse a terapeuta familiar Lúcia Helena Abdalla, especialista em saúde mental infanto juvenil e diretora do centro de estudos e ações sociais Reciclando Mentes. Segundo ela, momentos pontuais de tristeza, estresse ou raiva, são naturais. Porém, quando persistem, devem ser entendidos como um sinal de alerta.

Questões de saúde mental afetam todas as idades e perfis

Com a quarentena, a saúde mental de pessoas de todas as idades está sendo afetada. Afinal, a rotina de todos sofreu grandes mudanças:

  • grande parte dos idosos permanece afastada de suas famílias, privados do contato com filhos e netos;
  • crianças não brincam ao ar livre ou encontram os amigos e familiares, passando boa parte do tempo diante da televisão ou computador (inclusive para aulas on-line);
  • adolescentes e pré-adolescentes também foram privados do convívio social e passam o dia diante de aparelhos eletrônicos, seja para entretenimento, seja para cumprirem a nova rotina escolar, baseada em ensino a distância;
  • adultos estão preocupados com a saúde de todos os membros da família, medo de contágio da doença, perda de renda ou do emprego, entre outros;
  • surgiram vários desafios do trabalho em home office, como a falta de infraestrutura adequada e o acúmulo de tarefas em casa;
  • pessoas que atuam em atividades essenciais convivem com o risco de infecção e se preocupam com o fato de não poderem estar em isolamento;
  • profissionais de saúde enfrentam a pandemia em clínicas e hospitais e vivem um momento de grande desgaste.

problemas mentais
Problemas de saúde mental foram agravados com a pandemia

Pessoas que já enfrentavam questões preexistentes, como quadros de ansiedade ou depressão, correm mais risco de ter o problema agravado. De acordo com o documento da ONU, na China, durante a pandemia, os profissionais de saúde observaram o aumento de taxas de depressão (50%), ansiedade (45%) e insônia (34%).

Na Itália e na Espanha, as famílias relatam que as crianças enfrentam dificuldades para concentração, além de irritabilidade, inquietação e nervosismo. Em vários países foi observado o aumento de casos de violência doméstica. No Canadá, as estatísticas apontaram o aumento de 20% no consumo de álcool, na faixa etária de 15 a 48 anos.

No Brasil, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) fez, entre os dias 6 e 9 de maio, um levantamento entre seus associados, para avaliar os impactos da pandemia na saúde mental das pessoas. 47,9% dos psiquiatras que responderam à pesquisa relataram aumento das consultas, da ordem de 25%. Além disso, 89% dos pacientes já em tratamento apresentaram agravamento dos sintomas.

“Está tudo bem não conseguir fazer tudo”, diz Lúcia

Para a psicóloga Lúcia Helena, é fundamental que as pessoas encontrem alternativas para aliviar a sensação de estresse, causada pelo momento atual, que ela chama de “trauma coletivo”. “Ainda não sabemos quando nem como isso vai terminar, e o momento é de muita apreensão”, observou. “O distanciamento é um desafio muito grande”.

Para lidar com essa apreensão, ela sugere que as pessoas se cobrem menos. “Está tudo bem não conseguir fazer tudo. Estamos todos nos adaptando às novas rotinas, acumulando funções. É preciso rever a forma como nos relacionamos com as outras pessoas e com nossas obrigações e buscar um ponto de equilíbrio”, destacou.

Está tudo bem não conseguir fazer tudo. Estamos todos nos adaptando às novas rotinas, acumulando funções. É preciso rever a forma como nos relacionamos com as outras pessoas e com nossas obrigações e buscar um ponto de equilíbrio.

Além disso, para combater a preocupação excessiva, é fundamental sempre buscar fontes confiáveis de informação, evitando notícias falsas e alarmistas, manter os cuidados preventivos, sem pânico, e adotar estratégias para proteger as pessoas que fazem parte de grupos de risco. Manter a convivência familiar, mesmo que seja por meio de aplicativos de vídeo ou telefone, também é uma estratégia para reduzir o isolamento e estreitar laços, minimizando os problemas de saúde mental.

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