Alimentação balanceada no controle da diabetes

Alimentação balanceada no controle da diabetes

Endocrinologista mostra o que não pode faltar no cardápio do diabético e dá uma série de dicas para o controle da diabetes

Para o coordenador do departamento de Diabetes, Exercício e Esporte da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), o endocrinologista Roberto Zagury, “tudo é equilíbrio”. Ou seja, a vida do diabético deve ser marcada por moderação, e não por restrições. No bate-papo, ele destaca a importância das fibras, esclarece dúvidas sobre o consumo de açúcar e, também, de ervas medicinais – elas auxiliam ou não no controle da diabetes?

Na entrevista que você confere abaixo, o especialista fala ainda sobre “dietas da moda” e sobre as novas tecnologias utilizadas para o tratamento da doença. Vale mencionar que a diabetes foi também pauta da revista PROTESTE de novembro (ed. nº 218) – na matéria há uma série de dicas para ajudar o diabético a contar com um cardápio mais saudável e, ao mesmo tempo, menos restritivo.

Até que ponto a diabetes está relacionada a hábitos alimentares não saudáveis?

Em primeiro lugar, é preciso destacar dois pontos importantes: para a diabetes tipo 2, um estilo de vida não apropriado é agente causador da doença e empurra as pessoas pré-dispostas a desenvolvê-la. Ou seja, uma alimentação saudável pode evitar o surgimento da diabetes tipo 2. Já na diabetes tipo 1, hábitos alimentares não saudáveis não são agentes causais determinantes. Fatores como o não-aleitamento materno e algumas infecções, como caxumba e coxsackievirus, favorecem o desenvolvimento da doença. Entretanto, tanto no tipo 1 quanto no tipo 2, uma alimentação bem estruturada auxilia no tratamento.

Medicamentos para tratamento da diabetes podem ser utilizados para outras finalidades, como em pacientes não diabéticos que visam ao controle de peso?

Isso é possível, desde que sob prescrição médica. Existem medicamentos que, originalmente, foram testados para diabéticos, mas, com o tempo, percebeu-se outras funcionalidades em pacientes com sobrepeso, obesidade, insuficiência cardíaca e até doença renal crônica. Atualmente, a Anvisa e o FDA já autorizam o uso de alguns deles para essas pessoas. Infelizmente, existem excessos no uso desses medicamentos. Muitos médicos e pacientes acabam optando diretamente por esse tipo de uso sem ao menos tentarem terapias não medicamentosas previamente, como adoção de alimentação saudável e prática de atividade física.

Quais são as orientações para o consumo de alimentos com elevados teores de carboidratos, como beterraba, cenoura, batata-doce e algumas frutas?

O índice glicêmico (IG) mede o impacto que a composição daquele determinado alimento traz à glicemia pós-prandial (aumento do nível de glicose na corrente sanguínea cerca de 10 minutos após uma refeição). Ou seja, o quanto aquele alimento vai produzir de glicose depois de ser consumido. Na prática, é importante olhar o índice glicêmico dos alimentos. Mas fica um alerta! Não é porque o alimento tem IG alto que deve ser eliminado do cardápio do diabético. Assim como os tubérculos, entre eles, batata, cenoura e beterraba, as frutas com maior IG (acima de 55) são apenas não muito recomendadas, devendo o consumo ser limitado. Algumas frutas de alto IG são caqui, mamão, abacaxi, melancia e banana.

Quais alimentos são fundamentais para o cardápio do diabético?

Não há um alimento bonzinho como cura de todos os males. Tudo é equilíbrio. Para minimizar o controle glicêmico, o importante é ter uma dieta, que seja viável para o paciente, planejada junto a um nutricionista. Essas dietas certamente serão pautadas no consumo de fibras (principalmente provenientes de hortaliças folhosas, como alface, couve, espinafre e repolho), de gorduras boas (como abacate, azeite extravirgem e fontes de ômega 3) e de proteínas magras (como filé de frango e peixe).

E quais são os alimentos considerados vilões?

Açúcar de mesa e tudo o que leva açúcar. Atualmente, a Diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) recomenda que o consumo de açúcar de mesa seja de 5% a 10% do valor energético diário do indivíduo. Algumas das recomendações é retirar o açúcar do café ou optar pelo uso de adoçantes, mas, mesmo assim, com o plano de reduzi-lo aos poucos. Também é aconselhável optar sempre pela ingestão de água e eliminar refrigerantes com açúcar; lembrando que o consumo de refrigerante sem açúcar está autorizado, mas com moderação.

Existe alguma estratégia para controlar o índice glicêmico dos alimentos relacionada à combinação entre eles ou ao preparo?

Sim. Acrescentar ao cardápio alimentos como fibras (salada e cereais integrais), gorduras boas (como azeite extravirgem) e proteínas magras (peixes e file de frango), pois eles atrapalham a absorção de açúcar. Faça um teste! Em um dia, opte por refeições sem a adição de fibras. Realize o teste de glicemia antes de comer e, também, duas horas após a refeição. No dia seguinte, opte pela adição de fibras (com o consumo de uma hortaliça folhosa, como alface ou espinafre). Faça, novamente, o teste de glicemia antes de comer e duas horas após a refeição. Agora, compare. Houve diferença? Faça o mesmo teste associando gorduras boas e proteínas magras. Mas lembre-se de que tudo é equilíbrio. Controle as quantidades, até mesmo do azeite extravirgem!

Dietas low carb são recomendadas para diabéticos?

Sim. Essa dieta já está contemplada pela Diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes como estratégia bem-vinda.

Existe restrição do jejum intermitente para diabéticos?

Existe uma contraindicação para diabéticos tipo 1 e tipo 2 que fazem uso de sufonilureia e insulina, pois esses medicamentos podem causar hipoglicemia. Portanto, é imprescindível que esses pacientes conversem com o endocrinologista e, ainda, que haja um acompanhamento para evitar cetocitose diabética (complicação grave da diabetes).

A indicação, muitas vezes, é a de que o diabético tenha de quatro a seis refeições por dia. Para atender a essa recomendação, quais seriam as sugestões de lanches práticos, industrializados e não industrializados, para diabéticos?

Existem no mercado substitutos de refeições destinados especificamente a portadores de diabetes. São os suplementos prontos para consumo. Autorizados pela Anvisa, eles trazem, na composição, proteínas, fibras e gordura boa. Alguns são enriquecidos com Vitamina D. Esses alimentos possuem baixo índice glicêmico e são ausentes de sacarose. Alguns exemplos de marcas são Glucerna, Diazip e Nutren Control. Entretanto, aconselhamos que  você faça o seu lanche. Ou seja, preparar seu próprio alimento é o mais recomendado. Nesses casos, lanches práticos seriam: iogurte desnatado diet, light ou zero em açúcares, com granola sem açúcar, sanduíche de pão integral com pasta de atum (sem maionese), ovos cozidos, castanhas, frutas e pão integral com ricota. Hoje já há estratégias para realizar menos refeições ao dia. Isso vai depender do paciente. Por isso, é importante a orientação de um nutricionista.

O consumo de bebidas como água de coco, sucos integrais da fruta e refrigerantes zero açúcar é restritivo? Por quê?

Sucos integrais geralmente são feitos com quantidades concentradas da fruta e, por esse motivo, a quantidade usada pode virar um “tiro no pé”. Analise o rótulo, procure a quantidade de carboidratos e pondere! Água de coco possui menos calorias, o que leva ao consumo em excesso. Por isso, também deve ser consumido de forma controlada. O ideal é sempre optar por água. Do melhor para o pior, teríamos esta lista: água, água de coco e suco integral, refrigerante zero açúcar.

Fala-se muito a respeito de ervas medicinais que auxiliam no controle da diabetes, como feno-grego, ginseng asiático, dente-de-leão, camomila e pata-de-vaca. Qual sua opinião em relação a elas?

Nenhuma dessas ervas são reconhecidas cientificamente pela Sociedade Americana de Diabetes. Não me coloco contra ao consumo delas. Elas podem ser usadas, desde que o tratamento tradicional jamais seja abandonado. É importante destacar o seguinte: o fato de ser natural não significa que não trará problemas à saúde. Avaliar a origem, a concentração e a quantidade que será consumida é fundamental para não haver inconsequências!

Com quais novas tecnologias os diabéticos já podem contar atualmente?

Hoje já existem as bombas de insulina que fazem um papel incrível no tratamento da diabetes. Porém ainda é uma tecnologia cara, com um investimento inicial de R$ 16 mil e custo mensal de R$1 mil. Futuramente, uma tecnologia ainda mais avançada é a do pâncreas artificial, automática, sem a necessidade da intervenção do usuário. Nos Estados Unidos, a insulina em adesivos já está disponível, não havendo a necessidade de injeção. Essa opção ainda não é encontrada no Brasil. Por aqui, já é possível o uso de insulina inalável. No entanto, o produto ainda é caro.

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