Especialista tira dúvidas sobre métodos anticoncepcionais

Especialista tira dúvidas sobre métodos anticoncepcionais

A ginecologista e obstetra Dra. Caroline Nakano esclarece principais questionamentos quanto aos mais diversos métodos anticoncepcionais

Quais são os tipos de métodos anticoncepcionais disponíveis no Brasil? Quais são os mais eficazes? O SUS disponibiliza? Para responder essas e outras perguntas sobre uso de anticoncepcionais conversamos com a ginecologista e obstetra Dra. Caroline Nakano, especialista em sexualidade humana pela Faculdade de Medicina da USP.

Dra. Caroline Nakano: não existe método 100% eficaz

Quais são os métodos anticoncepcionais existentes no Brasil?

Existem dois grandes tipos: medicações e métodos de barreira. Se for falar de opção hormonal tem bastante coisa. A maioria das pacientes desconhece isso. O SUS não fornece todos os tipos, com exceção de algumas cidades, por meio de algum convênio com instituições de ensino. Entre os métodos hormonais, estão os orais, injetáveis, via adesivo e via vaginal. Existem ainda os implantes subdérmicos e o DIU. Esses são métodos de longa duração, para aquela paciente que não deseja engravidar tão cedo.

Quais são os métodos anticoncepcionais oferecidos pela rede básica?

Depende da prefeitura local. Muitas fornecem pílulas de duplo hormônio e de um hormônio. Algumas também fornecem DIU de cobre e métodos injetáveis mensais e trimestrais. Além do preservativo.

Como funciona cada método?

Os hormonais agem no cérebro inibindo a produção do hormônio. Nesse caso, a ovulação é inibida. Não ovulando, reduz as chances de gravidez. Já os intrauterinos agem tornando o ambiente do útero hostil ao espermatozóide, seja liberando cobre ou hormônio.

Existe um método que é melhor do que o outro?

Cada método tem vantagens e desvantagens e depende do perfil de saúde de cada paciente. Para gente definir o melhor método para uma pessoa, existem os chamados critérios de elegibilidade. Ou seja, elegemos através desses critérios as possibilidades de métodos para cada paciente. Por exemplo, avaliamos se paciente se possui alguma doença crônica (como a pressão alta), se já tem filho ou deseja ter, se já teve algum problema de saúde grave, se fuma, se tem obesidade, se já teve trombose, qual idade da paciente, entre outros vários critérios.

Quais são os efeitos colaterais dos métodos hormonais?

Dor de cabeça, dor nas mamas, sangramento fora do período planejado (escape), sonolência, inchaço, náusea e raramente vômitos.

Qual a diferença entre pílulas de hormônio único e duplo hormônio?

Quando falamos em duplo hormônio nos referimos a métodos contendo estrogênio e progesterona. já quando o método é de único hormônio contém apenas progesterona. existem muitas diferenças em relação a composição e dose das pílulas, principalmente, em relação aos critérios de elegibilidade.

Qual as vantagens de cada um?

A principal vantagem de pílulas contendo etinilestradiol e progesterona (duplo hormônio) é o fato haver melhor controle de ciclos menstruais e a principal desvantagem é o maior risco relativo para o desenvolvimento de trombose.

O risco de trombose é muito grande?

Astatisticamente, a incidência de trombose se dá em cerca de 5 em cada 10 mil pacientes, sem usar nenhum método anticoncepcional. Com métodos de um hormônio, essa estatística se mantém a mesma, ou seja, cerca de 5 em cada 10mil. nas pílulas de duplo hormônio, esse número sobe para cerca 9 em cada 10 mil. E uma curiosidade é que 30 gestantes (na gestação, no parto e no pós-parto) em cada 10 mil mulheres podem desenvolver trombose devido às mudanças no sistema de coagulação promovido pela gestação. Ou seja, um risco três vezes maior do que o maior risco dos métodos hormonais. Mas como vemos pouquíssimas gestantes desenvolverem a doença, assim, concluímos que o risco com o uso de métodos de duplo hormônio é muito menor do que o de simplesmente engravidar.

Quais são os tipos de pílulas anticoncepcionais e como deve ser feito seu uso?

Existem as pílulas de duplo hormônio e de hormônio único. Quanto à periodicidade, existem as pílulas que você toma durante 21 dias e faz uma pausa de 7; 24 dias e pausa 4 e, por último, 28 dias direto, sem pausa. No caso do anel vaginal, ele segue o período 21 dias e pausa (retira) durante 7 dias. No caso do adesivo, você usa uma vez por semana, durante três semanas. E aí faz uma pausa de 7 dias.

Quais são os métodos mais eficazes?

Não existe método 100% eficaz. Os mais eficazes costumam ser os de longa duração, como os DIU e o implante hormonal de progesterona. Sua eficáca é semelhante à laqueadura e vasectomia. A estatística de falha é de cerca duas a cada 1.000 pacientes. Nas pílulas, injetáveis e anel vaginal, a estatística pode atingir cerca de 6 a 9% de taxa de falha (ou seja de 6 a 9 pacientes a cada 100 podem engravidar se não usarem corretamente o método). Já a camisinha tem um percentual de 20% de falha.

Se a mulher esquecer de tomar a pílula, o que fazer?

O risco de gravidez aumenta se a mulher esquecer um dia. Isso porque a pílula tem que manter o nível de hormônio na corrente sanguínea. Ou seja, na falha/esquecimento existe um risco de acontecer uma ovulação. Recomenda-se a associação de preservativo juntamente com a pílula anticoncepcional para que se evite tanto uma gravidez indesejada quanto a presença das ISTs (infecções sexualmente transmissíveis).

E qual é sua recomendação para mulheres que esquecem muito?

Para as pacientes com dificuldade de se lembrar do uso diário das pílulas são recomendados métodos de longa duração.

O DIU é abortivo?

Absolutamente, não. Para haver aborto, tem que haver a fecundação. O DIU impede a fecundação, causando um ambiente hostil ao espermatozóide.

A partir de qual dia a pílula começa a fazer efeito?

Consideramos que em uso correto a pílula oferece segurança a partir de 20 dias se iniciado no primeiro dia do ciclo menstrual (primeiro dia da menstruação); devendo-se usar o preservativo no período não seguro.

A pílula do dia seguinte é um método anticoncepcional? Quando e como deve ser usada?

Ela é considerada um método de emergência. Não deve ser usada como método anticoncepcional. Até porque quanto mais se usa, mais vai perdendo efeito. Deve ser sempre usada em situações de sexo desprotegido ou quando a camisinha estoura. Ou ainda, em caso de violência sexual.

Métodos anticoncepcionais causam infertilidade?

Não. Assim que o método é interrompido, a mulher já pode voltar a engravidar.

Com que idade a mulher pode começar a fazer uso da pílula?

Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, a partir do momento que a paciente precise dele. Ou seja, a partir da primeira menstruação, numa média de 12 anos de idade. A partir de 13 anos, ela pode usar para regular a menstruação.

E com até que idade a mulher pode tomar a pílula anticoncepcional?

A idade em si não é fator isolado para se preocupar com a pílula. Porém, devemos ter uma preocupação em introduzir métodos hormonais em mulheres acima dos 40 anos.

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