Para que nada se perca…

… E tudo se transforme. Nos dias de pandemia e quarentena, mais do que nunca, é preciso não desperdiçar alimentos. A ida ao supermercado é cansativa e a escolha, limitada. Organize-se antes da viagem e siga o nosso roteiro para organizar os alimentos em tempos de crise…

Para que nada se perca…

Uma viagem, atualmente, ir a um supermercado torna fundamental uma atenção especial para diminuir a frequência das idas. Estamos em um momento, segundo o escritor e filósofo francês Albert Camus – onde uma das obras mais famosas é, justamente, sobre uma quarentena —, em que já não há “destinos individuais”, mas um sentido coletivo, que obriga talvez mais do que nunca, a comprar bem e a usar melhor o que compramos.

E quando chegamos em casa? A disciplina e o sentimento coletivo continuam a ser os nossos guias. Nós devemos organizar os alimentos que compramos e, sobretudo, não desperdiçá-los.

Hora de colocar em prática. Inicialmente, o consumidor deve saber que não é o responsável pelo desperdício de alimentos, afinal, o desrespeito desse, não ocorre de má fé. Há uma verdadeira estrada para percorrer nesse caminho de exuberância alimentar, que está ocorrendo ao longo dos últimos anos. Os alimentos são jogados fora, com ou sem razão para isso, e no decorrer de toda a cadeia de aproveitamento e consumo alimentar – produção, processamento, distribuição e consumo.

Mas o fato de não sermos os únicos responsáveis nessa questão, não nos isenta de prestarmos atenção e tentarmos quebrar o elo.  Por isso, comece por adotar medidas antes de ir ao supermercado durante as suas compras e depois em casa, quando for guardar, preparar e consumir os alimentos. Antes de seguir para a aventura das compras, prepare uma lista. Este cuidado vai evitar que você leve para casa produtos desnecessários e em quantidades excessivas, que acabará não conseguindo consumir. Ou seja, pode evitar o primeiro passo para o desperdício ainda antes de comprar seja o que for.

Tenha em mente o consumo familiar, o espaço na sua geladeira, congelador e nas despensas. E tente não juntar a fome à vontade de comer: ir às compras de estômago vazio também não é boa ideia. Acaba sempre levando mais do que não precisa realmente. Aproveite ainda, se possível, para deixar as crianças em casa, além de protegê-las, evita compras supérfluos.

Perto do prazo de validade

A escolha deve ser estabelecida em todos os passos dentro de um supermercado. A aposta em produtos com uma validade mais longa é uma decisão fundamental ao começar a comprar bem.

Em época de instabilidade na oferta dos alimentos frescos, as conservas (em frasco ou em lata) são uma boa alternativa. Mas, atenção, evite os enlatados com embalagens curvadas ou amassadas, ou com ferrugem, sinais de produto derramado ou manchas. Ao servir-se, pode experimentar a alegria de só ter de abrir a lata e começar a comer. Mas não adicione sal e, se sobrar, guarde no freezer, num recipiente fechado, não na própria lata.

E, quando chegar em casa, prepare-se para lidar com o fator tempo dos produtos adquiridos. Quando estiver arrumando as compras, faça uma revisão dos prazos de validade. A data de validade corresponde à data até à qual o produto pode ser ingerido com segurança. Aplica-se a basicamente todos os alimentos e não é recomendado consumir após a data indicada, pois põe em risco a sua segurança. Corre inclusive o risco de toxi-infeção. Ao abrir a embalagem, respeite as instruções de conservação.

E os outros?

Só mais uma observação. Há uma série de alimentos em que o prazo de validade não é obrigatório: frutas e legumes frescos não descascados ou cortados; vinhos e bebidas com teor alcoólico de, pelo menos, 10%, ou produtos de padaria e confeitaria e pela sua natureza, sejam geralmente consumidos nas 24 horas após a fabricação, por exemplo, vinagre, açúcar sólido e outros. E atenção: certifique-se de que os prazos estão impressos diretamente na embalagem.Lembre-se de que apenas são válidos enquanto a embalagem estiver fechada. Uma vez aberta, consuma o alimento rapidamente ou até o prazo também informado no rótulo contendo por exemplo a informação “após aberto consumir até x dias”.

A organização é uma ciência

Neste momento, é necessário manter a disciplina. Siga as ordens do general refrigerador — é dele a patente mais importante nesta fase —, e comece por arrumar os alimentos que vão à geladeira e ao congelador. Seguindo a marcha do exército de alimentos, por ordem. Coloque os produtos com validade mais curta à frente, para consumi-los primeiro. Note que a carne e o peixe crus, por exemplo, exigem mais frio do que a fruta e os vegetais.

A disciplina continua, levando em consideração as regras seguintes: a porta, em geral, é o local mais adequado para os ovos, a manteiga, o leite, a água e os sucos. A prateleira de cima é ideal para iogurtes, queijo, conserva de frutas e vegetais. Perto da área de resfriamento, arrume a carne moída ou frango, os frios, o peixe, e as conservas abertas. E não se esqueça de separar frutas e legumes: a gaveta é o melhor espaço para eles.

Jogue com o tempo. Quanto mais frescos estiverem os alimentos no momento em que você os colocou no congelador, melhor. No caso das hortaliças, lave-as com bastante água e elimine as partes não comestíveis. Depois, deixe-as durante um ou dois minutos fervendo. Isso destruirá as enzimas (as principais responsáveis pela degradação do alimento), reduzirá o número de microrganismos e conseguirá manter a cor e a qualidade dos alimentos. Por fim, passe por água fria, seque e congele.

A carne também precisa de preparo: retire os ossos, a gordura excessiva e os nervos. Já o peixe precisa ser limpo e escamado, as tripas retiradas e a cabeça lavada. Se o congelador tiver a função de congelamento rápido, acione-a quando se tratar de comida que estava à temperatura ambiente. No congelador, é indiferente o local onde arruma os alimentos, pois a temperatura deverá ser uniforme em todo o compartimento. Organize-os conforme lhe parecer mais prático.

Nunca coloque os alimentos quentes diretamente no congelador. Deixe-os esfriar antes de guardá-los, mas não à temperatura ambiente. Se estiverem muito quentes, coloque-os, por exemplo, em um pote de plástico e ponha-a num pote com água fria. Se não, arrume-os na geladeira antes de passar para o congelador.

No caso dos alimentos líquidos, não encha o recipiente até a borda – os produtos dilatam com o congelamento, podendo abrir na tampa. Antes do congelamento, identifique os alimentos, indicando a data de produção de cada. Consuma primeiro os produtos mais antigos.

Cada um possui o seu tempo

A temperatura do seu congelador é de -18ºC. Mesmo nestas condições, há de ter em conta o tempo máximo pelo qual cada tipo de alimento pode estar congelando. Confira: para frutas (pera, maçã, morangos) e hortícolas (cenoura, abóbora) cozidos eresfriados, não mais do que 12 meses.

Carnes? Bifes sem gordura, salsichas frescas, frango e carne de porco: 10 meses. Os queijos de pasta mole, não duram mais do que oito meses. Já os pães, as massas, biscoitos, a manteiga, a carne de porco magra e o peixe não devem ultrapassar os seis meses.

Considere só metade desse tempo (três meses) no caso de massas para pão e pizzas, tortas de fruta, peixe mais gorduroso (atum, salmão, sardinhas, carapaus), sopas, sobras de pratos cozidos (lasanha, bacalhau com natas). E menos um mês para hambúrgueres, carne moída e carne de porco mais gordurosa.

Ao descongelar, não coloque à temperatura ambiente. Coloque o alimento na geladeira na véspera. Se precisar acelerar o processo de descongelamento, passe por água fria, dentro da embalagem fechada. Utilizar o micro-ondas é outra solução, caso vá consumir todo o produto naquele momento. No caso de verduras ou de peixe, pode cozinhar diretamente. Uma vez descongelado, deverá consumir o alimento o quanto antes. E não o deve congelar duas vezes: perde as propriedades nutritivas.

Sem dispensar na despensa

Feche então a porta da geladeira. Vamos aos outros produtos. Nos armários, arrume os alimentos secos, incluindo os enlatados. Os produtos cujo prazo de validade está próximo do fim ficam mais à frente. O período de conservação depende do tipo de alimento. E esteja atento a alguns truques. Sabia, por exemplo, que a banana acelera o amadurecimento do restante das frutas? Guarde-a, por isso, em fruteira separada. Arrume os ovos com a ponta mais fina para baixo e sem lavar. A água destrói a película protetora e abre a porta aos microrganismos.

Outros conselhos

Para evitar desperdício, os produtos frescos, como verduras e frutas, devem ser consumidos em primeiro lugar. Se for o responsável pelas refeições, deixe cozinhar bem todos os pratos, para eliminar os microrganismos.

No caso de sobrar comida preparada, é necessário esfriá-la e guardá-la na geladeira, na zona mais fria. As sobras de refeições aguentam alguns dias, se forem bem cozinhadas e guardadas, no máximo, a 4°C.

Se não estiver nos seus planos consumir as sobras no prazo de um a três dias, congele em doses individuais. Descongele no micro-ondas, apenas se for consumir todo o produto naquele momento. Aqueça bem a comida, mas apenas uma vez. Restando alimentos, deite-os fora: em matéria de saúde, é melhor jogar pelo seguro.

Recicle a comida. O pão duro, quando ralado, pode ser reutilizado como cobertura de alguns pratos, mas também pode ser transformado em torradas. Com a fruta madura, pode fazer batida e sucos. Com a carne, faça almôndegas, hambúrgueres, rocambole e molhos. Com o peixe, escabeche, rissóis ou pudim. As sobras acendem a imaginação, e transformam-se em coisas inesperadas. Para que nada se perca.

SETE DICAS CONTRA O DESPERDÍCIO

  • Da compra às sobras, todos os passos devem conduzir à redução das perdas. Reduza o tamanho das porções e siga as recomendações.
  • Aproveite as sobras. Em vez de jogar fora, inclua os alimentos que sobram, por exemplo, numa nova receita ou reaqueça-os mais tarde. Conserve as sobras na geladeira ou no congelador, se não pretender consumi-las de imediato.
  • Certifique-se de que tem a geladeira regulada para a temperatura correta: entre 0 e 4ºC. Arrume bem os alimentos.
  • Não lote a geladeira. Poupa energia e evita estragar comida, porque se esqueceu de que a tinha.
  • Cozinhe primeiro os alimentos mais perto do final do prazo de validade.
  • Arrume à frente os produtos que devem ser consumidos primeiro.
  • Ao comprar, escolha alimentos com o maior prazo de validade.

OS FATOS

  • De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), enquanto 821 milhões de pessoas passam fome no mundo, um terço dos alimentos produzidos são desperdiçados diariamente.
  • 41 toneladas de comida são jogadas fora por dia no Brasil
  • Os alimentos mais desperdiçados pelos brasileiros são: arroz (22% do total), carne bovina (20%), feijão (16%), frango (15%), hortaliças (4%) e frutas (4%)

Tempo de vida dos alimentos na geladeira

  • Carne moída 1 dia
  • Refeições preparadas 1 a 2 dias
  • Carne, peixe e marisco, cozinhados ou crus 1 a 3 dias Fruta e legumes cozinhados 2 a 3 dias
  • Leite aberto 3 dias
  • Fruta e legumes crus 3 a 20 dias
  • Ovos 20 a 28 dias

 DICAS RÁPIDAS

  • A higiene é imprescindível para reduzir o desperdício.
  • Lavagem de mãos deve ser longa, e seguida de secagem correta, para evitar a contaminação cruzada (por exemplo, feche a torneira com o papel toalha)
  • Desinfecção de superfícies como bancadas e mesas devem realizadas com produtos apropriados
  • Separação de alimentos: evite a contaminação entre comida crua e cozinhada; não as misture
  • Cuidados na cozinha: Organize e deixe a comida a temperaturas apropriadas e lave adequadamente os alimentos
  • Separação: evite compartilhar comida ou objetos com outras pessoas.

Fonte: Revista Deco Proteste (edição 423/maio 2020)

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