Varíola do macaco: sintomas, tratamento e cenário no Brasil

Varíola do macaco: sintomas, tratamento e cenário no Brasil

O vírus surgiu na África e vem se espalhando no mundo. O Brasil tem média de 40 a 50 novos casos de mpox por mês, saiba tudo sobre a doença

A varíola do macaco, também conhecida como mpox, é uma doença viral, que vem chamando atenção das autoridades de saúde mundiais. Em agosto de 2022, o Brasil enfrentou um pico da doença, contabilizando mais de 40 mil casos.

Os casos no país vem diminuindo, mas, neste ano, a Organização Mundial da Saúde emitiu um alerta para uma variante mais perigosa da doença. Em níveis mundiais, a República Democrática do Congo enfrenta um surto de mpox há mais de 2 anos.

Neste artigo saiba tudo sobre a varíola do macaco, sintomas, tratamento e o cenário no Brasil, com base nas indicações dadas pelos especialistas ouvidos pela PROTESTE.

O que é a varíola do macaco?

A varíola dos macacos (Mpox) é uma zoonose viral. Ela é transmitida pelo Monkeypox vírus (MPXV). O cuidado precisa ser redobrado porque esse orthopoxvirus afeta tanto animais quanto humanos. Esse vírus é, estruturalmente, relacionado ao vírus da varíola.

O infectologista Paulo Gewehr, do Hospital Moinhos de Vento, explica que a transmissão da varíola do macaco pode ocorrer por várias vias: “O contato direto e prolongado com fluidos corporais e lesões de pele são os principais mecanismos de disseminação”, explica ele.

Em especial para os profissionais da saúde, é preciso prestar atenção à transmissão indireta, por meio de contato com superfícies contaminadas, como roupas, lençois e outros materiais.

Existem formas menos comuns de adquirir o vírus, como de mãe para filho durante a gravidez. Esse contágio é raro, mas pode levar a complicações graves como a varíola congênita, morte intrauterina ou nascimento prematuro.

Sintomas da doença

Por ser uma doença viral, a mpox tem sintomas semelhantes a outros problemas de saúde, como a varíola e a catapora, por exemplo. O período de incubação do vírus varia de 5 a 21 dias. Os sintomas gerais incluem:

  • febre alta;
  • dor de cabeça intensa;
  • dores musculares;
  • fadiga intensa

Além disso, o médico Gewehr cita a inflamação de linfonodos do pescoço, das axilas e da virilha, como sintoma característico da mpox. “Assim conseguimos diferenciar a varíola do macaco de outras enfermidades”, explica.

Também, cerca de 1 a 3 dias depois da febre, surgem as erupções cutâneas. Elas se concentram, inicialmente, no rosto, mas depois se espalham para outras partes do corpo. Segundo a infectologista Lorena Faro, essas “bolhas” podem evoluir para crostas e, depois, cicatrizar completamente.

A especialista e diretora médica do Grupo Alliança também alerta que a gravidade dos sintomas pode variar, e em alguns casos pode levar a complicações mais graves.

Qual o tratamento para a varíola do macaco?

Por mais que os sintomas assustem, a maioria das pessoas se recupera sem tratamento nenhum! O quadro dura de 2 a 4 semanas e, nesse período, é possível utilizar medicamentos específicos para diminuição da febre e controle da febre.

Como funciona essa melhora gradual sem medicamentos? A médica Lorena explica: “O sistema imunológico da pessoa infectada consegue combater e eliminar o vírus por conta própria, levando à recuperação total”.

Porém, o especialista Paulo ressalta a importância de tomar cuidado redobrado, se você fizer parte dos dos seguintes grupos:

  • pacientes com comorbidades;
  • imunodeprimidos;
  • crianças pequenas;
  • gestantes

Em quadros mais leves, o tratamento inclui hidratação, controle da febre e alívio da dor. Em casos mais graves ou com maior risco de complicações, o uso de antivirais pode ser avaliado por um especialista, já que não existe um medicamento específico para a mpox.

A varíola do macaco pode ser fatal?

Sim! Mesmo que o sistema imunológico do paciente tende a ser curar sozinho, a varíola do macaco pode levar a outras complicações graves, que podem ser fatais, tais como:

  • sepse;
  • encefalite;
  • pneumonia

Muitos países do continente africano têm enfrentado um surto da doença. Nas regiões endêmicas da África, as taxas de letalidade variam entre 1% e 10%, principalmente quando associados a variante clado 1B.

Os especialistas ressaltam que, por mais que a recuperação seja comum, a gravidade da doença pode variar e, em alguns casos, levar a complicações sérias ou até mesmo a óbito. Por isso é importante evitar o contágio.

Como evitar a doença?

Os infectologistas entrevistados pela PROTESTE, Paulo e Lorena, deram algumas medidas de prevenção para evitar o contágio da varíola do macaco:

  • Evitar contato com vesículas: manter distância de pessoas infectadas e evitar o contato com suas lesões cutâneas;
  • Higiene: lavar as mãos frequentemente e utilizar álcool em gel;
  • Isolamento: pessoas infectadas devem ficar em isolamento até que todas as vesículas estejam cicatrizadas para evitar a transmissão a outros;
  • Uso de EPIs: utilizar máscaras, luvas e aventais ao tratar pacientes ou manusear materiais contaminados;
  • Limpeza: assim como é importante manter a higiene própria em dia, também é necessário desinfectar superfícies e materiais contaminados;
  • Animais: como citado, essa zoonose afeta tanto humanos quantos animais, então evite contato com animais infectados ou mortos, especialmente em áreas onde a transmissão é considerada endêmica.

“Essas são algumas medidas importantes para controle da disseminação da doença e proteção da saúde pública”, diz Lorena. Ainda não existe vacina ou medicamento específico para a varíola do macaco, mas a vacina contra a varíola humana oferece imunidade parcial contra mpox.

Paulo explica: “Para contatos de casos suspeitos ou confirmados, a vacinação pós-exposição (idealmente até quatro dias após o contato, mas podendo ser realizada até 14 dias após) pode prevenir ou atenuar o desenvolvimento da doença”, diz.

Qual o cenário da doença no Brasil?

“Os surtos de varíola humana foram erradicados em 1980, embora o Monkeypox vírus continue a circular em algumas regiões da África, onde é endêmico. O ressurgimento da doença fora da África, como no Brasil, na Europa e na América do Norte, causa preocupações sobre a transmissão em áreas urbanas e seu potencial pandêmico”, explica Paulo.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a varíola dos macacos uma emergência de saúde pública de interesse internacional em 2022. A doença ganhou atenção no Brasil no mesmo período, com o Ministério da Saúde intensificando ações de vigilância e monitoramento, com estratégias de diagnóstico e tratamento.

Segundo dados levantados pela Agência Brasil, o pico de contaminação de mpox no país foi em agosto de 2022, com 40 mil casos. Um ano depois, em 2023, esse número caiu para 400 casos. Neste ano, o destaque do número de casos foi registrado em janeiro, com 170.

Agora, no segundo semestre de 2024, a média de casos novos se mantém entre 40 a 50. O número é visto pelo Ministério da Saúde como “bastante modesto, embora não desprezível”.

Para Lorena, as preocupações podem aumentar devido à nova variante: “A Nova variante do vírus, o clado 1B, está circulando na África e tem associado a um risco maior de complicações e óbitos”, explica.

Ela continua: “Essa variante pode ter uma transmissão diferente, afetando também crianças. A situação está sendo monitorada e alertas são emitidos quando necessário para evitar uma expansão maior da doença”, finaliza.

 

Lorena Faro é infectologista e diretora médica do Grupo Alliança, responsável por unidades de atendimento em 11 estados do Brasil.

Paulo Gewehr é infectologista do Hospital Moinhos de Vento, um dos cinco hospitais de excelência do Brasil, segundo o Ministério da Saúde.

Vitória Prates