Aumento nos casos de sarampo preocupa órgãos de saúde

Aumento nos casos de sarampo preocupa órgãos de saúde

Número de casos em 2018 foi o maior em 20 anos e resulta em aumento da mortalidade infantil; vacina é o melhor jeito de evitar a doença

Os órgãos de saúde brasileiros têm atualmente uma nova urgência: retomar os níveis de cobertura vacinal que eram obtidos antes de 2016. A baixa cobertura é apontada como um dos fatores responsáveis pela epidemia de sarampo em 2018.

O número de casos foi o maior em 20 anos, sendo 1.935 confirmados até o dia primeiro de outubro. De acordo com informações do portal do doutor Drauzio Varella, o resultado é nove vezes maior do que o registrado em 2015.

Na ocasião, ocorreram os últimos casos da doença no País, que totalizaram 214 registros.

Em 2016, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a eliminação da doença no Brasil. No entanto, de fevereiro a agosto de 2018, o número de suspeitas e de casos confirmados aumentou mês a mês.

Mortalidade infantil

Com a volta do sarampo, há também um aumento na mortalidade infantil. Apenas neste ano, a circulação do vírus (genótipo D8) levou a óbito seis crianças, sendo cinco menores de um ano de idade.

Para evitar a proliferação da doença, a OMS recomenda a imunização de pelo menos 95% da população em todos os município, com a primeira e a segunda doses da vacina. Em 2017, a cobertura vacinal nacional da primeira dose de sarampo foi de 84,9%, e a da segunda dose, de 71,5%.

Segundo o médico Marco Aurélio Sáfadi, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), os programas de imunização implementados nas últimas décadas eliminaram muitas doenças. Entre elas, o sarampo, a rubéola e a pólio. Com isso, as gerações mais jovens talvez não tenham a percepção da gravidade que essas doenças representam.

“Esse fenômeno fez com que houvesse um natural relaxamento por parte dos pais na atualização das vacinas indicadas no calendário de imunização. Os movimentos antivacinas, motivados por informações falsas, associaram de maneira leviana doenças crônicas às vacinas. Com isso, atribuíram a elas eventos adversos inexistentes, e também tiveram papel relevante na queda de cobertura”, explica.

Crianças menores correm mais riscos

Entre os pacientes no Brasil, as crianças de 6 meses a 4 anos são as mais acometidas pelo sarampo, representando 64% dos casos. O sarampo é uma das principais causas de mortalidade infantil. Isso acontece porque as crianças pequenas apresentam o sistema imunológico ainda em formação.

A cada mil crianças infectadas pela doença, prevê-se a ocorrência de uma ou duas mortes, provocadas por complicações respiratórias e neurológicas. Incluem-se ainda outras complicações comuns que podem piorar o prognóstico. Entre elas, a otite média aguda, broncopneumonia, laringotraqueobronquite (obstrução aguda de vias aéreas superiores) e diarreia.

Por isso, todas as crianças entre 1 ano e menores de 5 anos de qualquer região do país devem ser levadas aos postos de vacinação. A medida é válida independentemente da situação vacinal anterior.

Medidas

Tendo em vista esse quadro, muitos especialistas e instituições questionaram por que houve essa regressão em pouco tempo. Em nota, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) manifestou preocupação em relação à queda da cobertura vacinal entre as crianças.

Dados do Programa Nacional de Imunização (PNI) apontam essa redução entre 2015 e 2017. Nesse período, a cobertura com a primeira dose de tríplice viral (que inclui a imunização contra o sarampo), por exemplo, caiu de 96,1% para 86,7%.

Em contrapartida, o Ministério da Saúde diz que os recursos destinados à área de vacinação são crescentes. Em 2015, foram investidos R$ 33,6 milhões em campanhas. Já em 2017, foram R$ 53,6 milhões e, até junho de 2018, R$ 31,9 milhões. O Ministério menciona a realização de ações de imunização entre janeiro a agosto de 2018. Nesse período, foram distribuídas mais de 11 milhões de doses da tríplice viral para atender a demanda. Sete Estados receberam as vacinas: Rondônia, Amazonas, Roraima, Pará, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Pernambuco.

Como medida de aumento da cobertura vacinal, o Ministério da Saúde lançou a Campanha Nacional de Vacinação contra Poliomielite e Sarampo, em agosto de 2018. Mesmo assim, a meta de 95% não foi alcançada, e a campanha foi prorrogada até 14 de setembro.

Após o fim da campanha, o Ministério anunciou que atingiu a meta de vacinação de 95,4% das crianças de 1 a menores de 5 anos. Outro balanço, divulgado no dia 3 de outubro, registrou o aumento da cobertura vacinal para sarampo (97,7%) e poliomielite (97,9%). Com o trabalho, 15 Estados atingiram a meta de vacinação para as duas vacinas.

Falhas no sistema

É importante destacar que a vacina de sarampo é de elevada eficácia contra a doença. Estima-se que após duas doses da vacina os indivíduos obtenham aproximadamente 97% de proteção.

Entretanto, a questão não se resume apenas à quantia de doses aplicadas e ao investimento em campanhas. A Abrasco aponta falhas na busca ativa e na investigação epidemiológica. Dessa forma, o órgão destaca a importância da participação do setor privado na notificação de casos.

A entidade defende o maior envolvimento do setor na notificação de casos suspeitos, devido ao alto risco de brasileiros que viajam para outros continentes terem contato com a doença. Essa população muitas vezes usa a rede particular de saúde.

Também entram em pauta considerações importantes no planejamento de contenção. Entre elas, a falta de uma retaguarda laboratorial mais ágil para descartar ou confirmar os casos suspeitos. Assim, seria possível realizar ações com mais racionalidade.

A rapidez no enfrentamento é fundamental no caso de enfermidades como o sarampo. Algumas estratégias, como isolar pessoas infectadas, não são eficazes. Isso porque a transmissão pode ocorrer antes de surgirem os primeiros sinais mais visíveis da doença. Além disso, é possível haver contaminação alguns dias após os sintomas sumirem. Segundo a Abrasco, a política de eliminação do sarampo diante um caso suspeito deve contemplar a vacinação de todos os contatos. Isso deve ser feito o mais rápido possível e inclui pessoas do convívio em casa, no trabalho ou escola. No entanto, isso não foi padrão nas campanhas.

Quem deve ser vacinado?

O sarampo é uma doença infecciosa de fácil contágio. A estimativa é que 9 em cada 10 pessoas vulneráveis desenvolvam a doença, caso haja contato com secreções de um paciente infectado. A única forma de prevenção é por meio da vacina. O medicamento pode ser aplicado em clínicas privadas ou postos de saúde.

O Ministério reforça que todos os pais e responsáveis devem ter o compromisso de atualizar as cadernetas de vacinação dos filhos. É necessária atenção especial para as crianças menores de 5 anos. Nesses casos, elas devem ser vacinadas conforme o Calendário Nacional de Vacinação.

A vacina contra o sarampo deve ser aplicada em duas doses, de acordo com a Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm). A primeira a partir do 12º mês de vida da criança, e a segunda entre os 15 e 24 meses. A exceção é para as mulheres grávidas e os indivíduos imunodeprimidos. Os adultos que não foram vacinados e não tiveram a doença na infância também devem ser imunizados.