Estudo da Fiocruz mostra impactos do zika na sociedade
Pesquisa mostra as dificuldades das famílias que tiveram crianças com microcefalia
Um estudo da Fiocruz Pernambuco, Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e London School of Hygiene and Tropical Medicine mostrou os impactos sociais causados pelo zika vírus divulgados em novembro. Nos últimos três anos no Brasil, a doença que aumentou o número de casos de crianças nascidas com microcefalia, deixou mães e mulheres envolvidas nessas situações muito vulneráveis.
Numa rotina contínua de consultas médicas, atividades de estímulo e de recuperação de suas crianças, essas mulheres tiveram que largar o trabalho. Portanto, isso impactou a renda dessas famílias. Além disso, abandonaram projetos pessoais. E enfrentam as dificuldades de um sistema de saúde despreparado para atender seus filhos.
O estudo mostrou que avós, tias e irmãs adolescentes também são figuras importantes na rotina de atendimentos terapêuticos e nas atividades domésticas.
Quando são presentes no dia a dia das crianças, os pais são responsáveis por manter o sustento da família. Além de ajudar em atividades domésticas para tentar facilitar a rotina de cuidados tão centrados nas mães mais leves.
O estudo
Os dados foram coletados de maio de 2017 a janeiro de 2018. As cidades participantes foram Recife, Jaboatão dos Guararapes (PE) e Rio de Janeiro.
Além de descrever o impacto da Síndrome Congênita da Zika (SCZ) nas famílias, a pesquisa estimou o custo da assistência à saúde das crianças com SCZ para o Sistema Único de Saúde (SUS) e para suas famílias. No total de entrevistados, 50% tinham renda entre um e três salários mínimos. O estudo também identificou os impactos nas ações e serviços de saúde e na saúde reprodutiva.
Em relação às despesas, o custo médio com consultas em um ano foi 657% maior entre as crianças com microcefalia ou com atraso de desenvolvimento grave causado pela síndrome. A quantidade de consultas médicas foram de 422% e com outros profissionais de saúde foram de 1.212%.
As famílias também encontram dificuldades na assistência de saúde insuficiente e fragmentada. Já para os profissionais de saúde, a epidemia deu visibilidade às dificuldades de acesso de outras crianças com problemas semelhantes. Mesmo que determinados por outras patologias/síndromes congênitas.
A maioria das mulheres em idade reprodutiva expressou sentimento de pânico em referência à gravidez durante a epidemia de zika. Outro medo delas era uma gravidez não planejada. Pois estavam insatisfeitas com a oferta de métodos contraceptivos disponíveis nos serviços de saúde.
Quase todos os entrevistados desconheciam a possibilidade de transmissão sexual do vírus zika. Outros ouviram informações na televisão, mas não deram importância porque não era um assunto recorrente na mídia.