Terapias com hipnose e acupuntura realmente funcionam?
Já existe um posicionamento do Conselho Federal de Psicologia em relação às duas terapias, que ganham cada vez mais aceitação entre o público
Você sabia que o Conselho Federal de Psicologia já reconhece a acupuntura e a hipnose como recursos complementares à Psicologia? No entanto, essas práticas devem seguir condições de trabalho dignas e apropriadas. Para isso, é necessário que sejam utilizados conhecimentos e técnicas fundamentados na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional.
Em artigo, o site do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, explica um pouco mais sobre essas práticas.
Hipnose
A hipnose foi reconhecida na área de saúde, como campo de formação e como recurso técnico capaz de contribuir nas resoluções de problemas físicos e psicológicos, tanto do ponto de vista terapêutico, como de recurso coadjuvante. O assunto ficou bastante conhecido na internet em decorrência do trabalho do Youtuber – e hipnólogo – Pyong Lee.
A exigência para que o profissional possa aplicar esse recurso é que sua capacitação seja adequada e que haja a devida comprovação, de acordo com o disposto no Código de Ética Profissional do Psicólogo.
Além disso, o método deve utilizado apenas quando for necessário e deve estar dentro dos padrões éticos. É fundamental garantir a segurança e o bem-estar do paciente. Isso significa que é vedada a utilização, por exemplo, da hipnose de forma fútil ou com caráter sensacionalista. Também não deve ser usada caso crie situações constrangedoras às pessoas que estão se submetendo ao processo hipnótico.
A professora da PUC-SP e coordenadora do Curso de Extensão de Hipnose Clínica (COGEAE/PUC-SP), Isabel Cristina Labate, explica que a hipnose tem sido usada para alívio da dor, produzindo anestesia ou analgesia. O método costuma ser aplicado nos diferentes setores da clínica e cirurgia.
Benefícios
A prática pode ser utilizada na obstetrícia e auxiliando como tranquilizante para o alívio dos estados de ansiedade e apreensão. Além disso, pode ser útil para o controle de alguns hábitos, como o tabagismo. A prática ainda costuma ser aplicada experimentalmente em pesquisas, no campo psicológico ou neurofisiológico.
Ela ressalta que a prática não é recomendada, no entanto, para remoção de sintomas, sem primeiro se saber a que finalidade serve ou em condições em que o estado emocional do paciente não foi determinado. Também não deve ser aplicada sem objetivo definido, apenas para satisfazer insistentes pedidos do paciente. Não é recomendado ainda que seja utilizada para abolir determinadas sensações, como a fadiga, por exemplo. A justificativa é que isso pode levar o paciente a ir além dos limites de sua capacidade física.
Ela afirma que para se iniciar uma psicoterapia sob hipnose, é importante saber se essa técnica é a mais indicada para o paciente. Também é importante observar se não há contra indicação na indução e manutenção do estado hipnótico. “A hipnose não é uma forma de psicoterapia, mas um meio de facilitação da psicoterapia. Serve como um auxiliar valioso pelo emprego eventual de procedimentos especializados que só podem ser obtidos pela hipnose”, diz Isabel.
Segundo ela, qualquer técnica psicoterápica pode ser aplicada sob hipnose. Isso exige por parte do terapeuta não só conhecimento da técnica hipnoterápica, mas também conhecimento e experiência no campo da psicoterapia. “Hoje, a hipnose desenvolve-se em uma experiência interpessoal, dinâmica. O aspecto tradicional da hipnose como técnica passiva centralizada no médico não é mais aceita. Novas concepções têm contribuído para sua utilização como uma terapia ativa, centralizada no paciente”, diz a profissional.
Acupuntura
Em 2002, a acupuntura foi também reconhecida como recurso complementar no trabalho do psicólogo. A resolução, publicada no Ministério do Trabalho, estabelece que o psicólogo poderá recorrer à acupuntura, dentro do seu campo de atuação. Porém, precisa comprovar formação em curso específico de acupuntura e capacitação adequada.
A recomendação da Sociedade Brasileira de Psicologia e Acupuntura (Sobrapa) é que o psicólogo procure um curso de acupuntura tradicional com 1.200 horas de duração. A formação também deve ter pelo menos um psicólogo no corpo docente e em supervisão de atendimento.
Ação significativa
A presidente interina da Sobrapa, Sonia Chiba, diz que estudos científicos corroboram a tese de que a acupuntura, praticada há mais de 5 mil anos, tem ação significativa na esfera psíquica. “A OMS aponta também nessa direção. O ser humano é um ‘todo’ não suscetível de ser dividido. Sendo assim, o psiquismo é parte integrante podendo apresentar desequilíbrios significativos onde entra então a intervenção do psicólogo acupunturista”, explica ela.
Luiz Leonelli, coordenador do ambulatório terapias complementares do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador do Estado de São Paulo (CEREST/SP), ressalta, entretanto, que não se pode exercer a psicoterapia e acupuntura de forma conjunta. Isso se deve às diferenças e particularidades no papel do psicólogo acupunturista em relação ao psicoterapeuta.
Ele observa, no entanto, que mesmo a acupuntura sendo usada de forma independente, como recurso complementar à psicoterapia, os resultados são visíveis, duradouros e consistentes em vários aspectos.
Caráter interdisciplinar
Ele menciona o trabalho desenvolvido no ambulatório do CEREST-SP, onde há um contingente grande de pacientes portadores de Ler/Dort (Lesões por esforços repetitivos/Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho). Leonelli explica que a acupuntura é usada com resultados significativos em caráter interdisciplinar com outras áreas. São elas a fisioterapia, psicologia, medicina, terapia ocupacional, entre outras.
O método atua na assistência integral a pacientes que apresentam dores no sistema músculo-esquelético. Além disso, é eficiente para quadros associados à depressão, síndrome do pânico, assédio moral, além de outras contingências.
Segundo Leonelli, tais pacientes são submetidos a situações agudas e crônicas de estresse, com agravamentos relacionados à ocupação. São casos como afastamento de serviço por demissão, auxílio-doença, acidente de trabalho, conflitos laborais, familiares e pessoais. “Nunca vem somente a dor física. Há todo um sofrimento psíquico relacionado a essa condição”, diz.
Leonelli acrescenta que a acupuntura tem sido indicada também para transtornos de ansiedade e psicossomáticos. Outra forma de utilização é em casos de transtornos imunológicos que se agravam com o estresse, uso de drogas, distúrbios alimentares, entre outras manifestações.