Reeducação nutricional: a chave para a perda de peso sustentável

Reeducação nutricional: a chave para a perda de peso sustentável

Perder peso de forma duradoura e saudável passa por uma mudança de hábitos do indivíduo; leia essa entrevista e descubra como virar essa chave

Quem já não entrou em dietas milagrosas que trouxeram resultado a curto prazo, mas fracassaram depois de um tempo? Pois para perder peso de forma sustentável há um método com nome e sobrenome: reeducação nutricional. Para esclarecer sobre o assunto, conversamos com a nutricionista Dra. Luciana Herfenist, que tem um instituto que leva seu nome no Rio de Janeiro e é um dos nomes mais respeitados no ramo da Nutrição. Veja abaixo a entrevista completa:

Qual é a importância da reeducação alimentar e nutricional?

Uma alimentação adequada é capaz de prevenir e auxiliar no tratamento de diversas doenças, como a obesidade, hipertensão, doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, doença renal, esteatose hepática, entre outras. Além disso, os benefícios estéticos são claramente visíveis.

A reeducação alimentar e nutricional é capaz de garantir que as mudanças no hábito e no comportamento alimentar sejam sustentáveis para toda vida, pois do contrário, o emagrecimento ou qualquer outro objetivo que se almeje estará destinado ao fracasso, visto que se o comportamento não muda, a pessoa só consegue seguir um padrão de alimentação por um período, onde a tendência será sempre a retornar aos hábitos inadequados.

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Com tantas dietas à disposição, por que a educação alimentar ainda é a melhor estratégia na perda de peso?

Se pararmos para pensar evolutivamente, nós éramos nômades, caçávamos para nos alimentar e não existia uma certeza de quando seria a nossa próxima refeição. Desta forma, nos adaptamos à tendência de armazenamento de tecido adiposo, uma defesa de sobrevivência do organismo. É como se o nosso organismo não entendesse que ao estar em uma dieta para a redução do peso, estamos fazendo isso de forma intencional, ao invés de não termos alimentos disponíveis.

É por isso que as dietas restritivas falham a longo prazo, pois nosso organismo se defende de todas as formas. Uma delas é com a diminuição do nosso metabolismo, o que dificulta o emagrecimento. Além disso, temos a diminuição de hormônios que estimulam a saciedade e o aumento daqueles que nos aumentam a fome. Não menos importante, devemos lembrar que toda dieta restritiva vem acompanhada do emagrecimento rápido de muitos quilos. Eis o questionamento: uma pessoa de 50 anos, com um padrão de comportamento alimentar construído nesse tempo todo, consegue mudá-lo em 2 meses de uma dieta milagrosa? É extremamente difícil, para não dizer impossível.

Reeducação nutricional
Como começar esse desafio?

Primeiramente, é essencial o acompanhamento de um nutricionista. Caso a pessoa tenha questões comportamentais envolvidas, o que é comum em indivíduos com obesidade, o processo de mudança ocorrerá de forma muito mais fácil com a ajuda de um psicólogo e/ou psiquiatra. A depender do caso, somente com este trabalho interdisciplinar é possível obter resultados consistentes a longo prazo.

Inicialmente, é necessário reduzir consideravelmente o consumo de alimentos ricos em açúcares, sódio, conservantes, aditivos químicos, estabilizantes e farinha de trigo, comumente distribuídos nas prateleiras dos supermercados, nos biscoitos, pães, bolos, doces e guloseimas em geral. Outro ponto a se considerar é deixar de lado o consumo frequente de fast foods, pois são altamente calóricos e não agregam nenhum valor nutricional benéfico.

A hidratação é extremamente importante, e claro, pela ingestão de água frequente. Este consumo de água regular é essencial para auxiliar na excreção de toxinas provenientes do nosso mecanismo hepático e intestinal de destoxificação do organismo. É importante exercitar-se, sempre com a aprovação de um cardiologista e acompanhamento do educador físico. Realizar um exercício que lhe proporcione bem estar é essencial para uma boa adesão.

É comum ouvir que as pessoas não têm tempo de seguir uma alimentação saudável, por fazerem mil coisas ao mesmo tempo. Que dicas você daria?

Separe um momento da semana, que seja 1h, para comprar frutas, damasco, ameixa seca, castanhas e nozes. Estes alimentos são coringas que devem estar sempre à disposição em sua bolsa/mochila. Mas cuidado, tudo com moderação e com quantidades orientadas por um nutricionista, pois muitas pessoas tendem a pensar que estes alimentos podem ser consumidos sem moderação. Mas não é bem assim. Eu sou bastante criteriosa no planejamento alimentar de meus pacientes, e em mais de 12 anos atendendo pessoas com sobrepeso e obesidade, sei que o equilíbrio é o melhor caminho.

Se você possuir condições financeiras, existem empresas especializadas em marmitas saudáveis. Se o seu orçamento é mais apertado, não tem jeito, você precisará priorizar um momento de sua semana para preparar a alimentação da semana. É necessário que você crie soluções e não desculpas, pois desculpas não levam ninguém a nada, somente a insatisfação. Priorize o que vai de fato contribuir para a melhoria de sua qualidade de vida e saúde.

Uma excelente opção para garantir a saciedade em meio á correria do trabalho, é levar um iogurte na bolsa, e um mix de fibras em outro potinho (misture chia, farinha de aveia e linhaça). Até no transporte público você pode consumir este lanche: abriu o iogurte, misturou o mix de fibras e pronto! Ninguém vai fazer cara feia para você, afinal, este lanche não exalará um cheiro desagradável.

Quais são os maiores inimigos da dieta? Que alimentos devemos evitar?

Industrializados, pois são ricos em açucares, sódio, conservantes, aditivos químicos, farináceos e em gorduras trans e saturadas. Os “falsos fits”, como as barrinhas de cereais, biscoitos, pães e bolos que se intitulam integrais, quando na verdade o primeiro ingrediente da composição química geralmente são: farinha de trigo enriquecida com ácido fólico, açúcar, maltodextrina, xarope de milho, xarope de glicose, açúcar invertido.

Que malefícios poderiam ser causados com o consumo desses alimentos?

Podem contribuir significativamente para a disbiose e um intestino desequilibrado, o que repercute em maior suscetibilidade a alergias, intolerâncias alimentares e doenças como o diabetes. Além disso, elevam a insulina, e uma das coisas que precisamos nos preocupar durante o emagrecimento é controlar este hormônio, pois ele tende a aumentar o ganho de tecido adiposo e dificulta a perda de peso, quando estimulado de forma exacerbada.

Quais alimentos são ideais para uma boa saúde?

Frutas, vegetais, castanhas, nozes, azeite de oliva extra virgem, cereais (arroz integral, quinoa, aveia, amaranto, trigo sarraceno), leguminosas (ervilha, lentilha, feijões, grão de bico, edamame) e claro, orgânicos.

Quantas refeição fazer por dia?
Quantas refeições devem ser feitas por dia? Até há pouco tempo era recomendado realizar 6 refeições. Atualmente é comum ouvir 3 refeições ou comer apenas quando tem vontade ao invés do clássico de 3 em 3 horas. Qual seria a sua opinião em relação a isso?

Isso é muito individual, pois existem pessoas que realmente necessitam alimentar-se de 3 em 3 horas, pois do contrário, ficam com muita fome até a próxima refeição, gerando um consumo excessivo de alimentos, o que compromete totalmente o planejamento alimentar focado no emagrecimento. Outras pessoas já não fazem tanta questão de fazer seis refeições ao dia, mas sim, concentrar as calorias em apenas três, por exemplo. Tudo isso é muito individual e não há como padronizar. É necessário uma avaliação nutricional minunciosamente específica e criteriosa para que o nutricionista identifique estratégias interessantes para uma melhor adesão.

Qual o papel do nutricionista na reeducação nutricional?

O nutricionista tem papel fundamental neste processo, visto que somos nós quem orientamos sobre as melhores escolhas, ensinamos como se lê o rotulo de um produto, o que ficar atento ao pensar em consumir algo na rua (ensinamos sobre aspectos higiênico-sanitários-microbiológicos). Quando há alguma doença, explicamos o motivo de cada alimento estar no planejamento alimentar, pois tudo tem um propósito. Enquanto o paciente está em nossa frente, fazendo diversos relatos, imaginamos diversas vias metabólicas, a atuação de nutrientes de forma benéfica, e enfim, temos a nossa conduta.

Além disso, sabemos calcular e equilibrar um planejamento alimentar exatamente individualizado. Pode parecer fácil, mas na verdade, nossa mente ‘’borbulha’’ em milhões de pensamentos e possibilidades para melhor atender quem está a nossa frente. Com um planejamento alimentar equilibrado, somos capazes de dar o suporte adequado para que cada paciente alcance seus objetivos. Para isso, basta que se tenha a adesão ao que foi planejado junto ao paciente. Nós buscamos entender a rotina do individuo, sua cultura, religião, condições financeiras, hábitos e rotina diária, pois somente dessa forma, é possível que tudo seja perfeitamente adequado para cada pessoa, desde a alimentação até a suplementação nutricional. O nutricionista é o profissional que prescreve cada alimento, sabendo exatamente o que e quando quer estimular.

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Como um nutricionista pode influenciar na vida das pessoas?

Sabemos que diversas doenças podem ser prevenidas através de uma alimentação equilibrada + hábitos de vida saudáveis. Atualmente o cenário vem mudando: no passado, éramos vistos como profissionais que proibiam, faziam restrições, mas hoje em dia a Nutrição e os nutricionistas já são reconhecidos como fundamentais para uma vida saudável, afinal, a partir do momento em que nutrimos o nosso organismo como ele merece e precisa, reduzimos drasticamente o risco para diversas alterações que corroboram para o aumento das taxas de mortalidade e doenças que acarretam em dependência e redução da qualidade de vida.

Muito interessante, é ressaltar que para situações comuns, muitas pessoas ainda não sabem o quanto o nutricionista pode auxiliar: candidíase de repetição, infecções urinárias, herpes, e além disso, na melhora de celulites, cabelo, pele e unhas. Como uma nutricionista que busca se inovar cada vez mais, não posso deixar de citar a Nutrigenômica, que é uma área fascinante que me capacita para olhar além. O nutricionista atualizado, como eu, que busca se aperfeiçoar cada vez mais, realiza prescrições nutricionais e suplementações com base em testes genéticos, que associados ao que o paciente relata, nos permite identificar quais são os nutrientes chaves para a saúde e longevidade de acordo com cada pessoa.