Como o estresse pode afetar a sua pele?

Como o estresse pode afetar a sua pele?

De dermatites a vitiligo, o estresse é capaz de afetar a saúde da sua pele. Entenda como isso pode acontecer e quais são os melhores tratamentos

Em janeiro deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu o Brasil como o país que possui mais pessoas ansiosas no mundo, com a marca de 18,6 milhões de brasileiros diagnosticados com a condição.

E isso não é tudo: o relatório global World Mental Health Day 2024 destacou que os brasileiros ocupam o 4º lugar na lista de países com as populações mais afetadas pelo estresse. A pesquisa — que entrevistou 1,5 mil pessoas — destacou que somente 26% dos participantes alega nunca ter sentido sintomas de estresse e ansiedade.

O estresse e ansiedade, mesmo apresentando semelhanças, possuem uma diferença fundamental: o estresse é uma reação do corpo a situações de tensão, e pode ser transitório a depender da duração do problema. Enquanto isso, a ansiedade é uma doença mental caracterizada pelo estado constante de medo, estresse e fadiga.

Para além dos sintomas psicológicos dessas duas condições, os sintomas físicos podem ser um problema ainda maior e atrapalhar o dia a dia dos diagnosticados. Na ansiedade, os principais deles — conforme informações divulgadas pelo Hospital Albert Einstein — são:

  • Tensão muscular;
  • Surgimento ou intensificação de dores pelo corpo;
  • Alterações no funcionamento do intestino, podendo provocar gastrites nervosas, por exemplo;
  • Problemas de sono.

A Biblioteca Virtual de Saúde, ministrada pelo Ministério da Saúde, definiu sob outro ângulo o estresse em três fases: de Alerta, de Resistência e de Exaustão. Cada uma delas pode apresentar diferentes tipos de sintomas, sendo eles:

  • Fase de Alerta: é aquela na qual o indivíduo entra em contato com o gatilho do estresse, seja ele qual for. Neste momento, os sintomas mais comuns são: mãos e pés frios, boca seca, dor de estômago, suor, tensão e dor muscular, aperto na mandíbula e/ou ranger de dentes, aceleração dos batimentos cardíacos, insônia e diarreia passageira;
  • Fase de Resistência: é aquela na qual, após o acontecimento gerador do estresse, o corpo tenta voltar ao seu estado de equilíbrio. Por causa disso, os principais sintomas dessa fase são: problemas de memória, mal-estar generalizado, formigamento nas extremidades (mãos e/ou pés), sensação de desgaste físico constante, mudança no apetite, gastrite prolongada, tontura, sensibilidade emotiva excessiva, obsessão com o agente estressor, irritabilidade excessiva e problemas de pele;
  • Fase de Exaustão: este é o momento que, passado o estresse e a resistência a ele, o corpo pode apresentar sintomas prolongados advindos dessa condição. Nesse cenário, os sintomas podem ser diarreias frequentes, insônia, tiques nervosos, dificuldades sexuais, mudança extrema de apetite, batimentos cardíacos acelerados, tontura frequente, úlcera, pesadelos, apatia, cansaço excessivo, irritabilidade, angústia, hipersensibilidade emotiva, perda do senso de humor e problemas de pele prolongados.

Ainda de acordo com a Biblioteca Virtual de Saúde, alguns dos principais e mais eficientes tratamentos contra esses quadros são alimentação equilibrada e nutritiva e exercícios físicos diários.

Nas fases de Alerta e Exaustão do estresse, problemas de pele podem dar as caras e se prolongarem para um quadro que pode afetar não só a sua autoestima (a depender de onde as alergias aparecem), mas também a saúde da sua pele. Nesta realidade, a Proteste conversou com Jéssica Schmitt, psicóloga graduada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com especialidade em Saúde da Família e Psicodermatologia, para entender as principais doenças de pele associadas ao estresse e qual é o tratamento mais indicado pelos especialistas.

Como o estresse e a ansiedade podem causar problemas de pele?

O estresse e a ansiedade em si são processos emocionais protetivos para a nossa saúde física e mental, visto que se tratam de reações esperadas diante de eventos que significam uma ameaça para a nossa integridade. Por exemplo, é esperado que eu acione o mecanismo de estresse diante do ataque de um animal selvagem em uma floresta. É a partir do mecanismo fisioquímico do estresse, mediante a liberação de hormônios correspondentes como o cortisol e a adrenalina, que eu vou ter condições de reagir rapidamente diante de uma ameaça à vida.

Contudo, o estresse e a ansiedade se tornam prejudiciais para a nossa saúde quando se apresentam de forma crônica e ininterrupta. O estresse crônico e a ansiedade patológica provocam desequilíbrio nas respostas emitidas pelo nosso sistema imunológico. Logo, são condições crônicas de saúde imunomediadas — ou seja, que dependem da regulação imunológica, e que podem ser desencadeadas e/ou agravadas, como é o caso da maioria das doenças crônicas de pele.

Quais são as doenças de pele mais comuns decorrentes do estresse?

São as conhecidas psicodermatoses: doenças de pele que são desencadeadas e/ou agravadas pelo estresse emocional; transtornos mentais que geram lesões dermatológicas ou doenças de pele que, devido às lesões visíveis e com desconforto físico, geram impactos psicossociais na vida dos pacientes que convivem com elas. Elas são: Psoríase, vitiligo, acne, urticária, dermatite atópica, herpes, alopecia areata, tricotilomania, transtorno de escoriação.

Os impactos vão desde discriminação social, prejuízos na qualidade do sono e em atividades cotidianas que ficam limitadas devido à doença dermatológica como é o caso das relações interpessoais, do trabalho e dos estudos. Os prejuízos funcionais enfrentados por pacientes dermatológicos crônicos afetam diretamente a sua qualidade de vida e o seu bem-estar.

De que maneira as doenças de pele geradas pelo estresse se manifestam?

Os principais sinais de que as doenças de pele chegaram após situações estressantes são as lesões cutâneas espalhadas pelo corpo. Além das feridas na pele, as doenças dermatológicas crônicas implicam em prurido/coceira constantes, dor e desconforto físico, impactos na qualidade do sono e prejuízos nas relações interpessoais, no trabalho e nos estudos, além do enfrentamento ao preconceito.

No caso de diagnósticos de psoríase, as lesões podem ser acompanhadas de dores crônicas. Ela pode também estar associada a dores e inflamações das articulações, conhecida como artrite psoriásica.

A resposta imunológica da pele ao estresse é adquirida ao longo da vida ou apenas herdada geneticamente?

As doenças de pele são condições multifatoriais, ou seja, não podem ser atribuídas a uma única causa isolada. Elas resultam da interação de diversos fatores que, combinados, favorecem o surgimento ou agravamento de quadros dermatológicos, especialmente os crônicos. Entre esses fatores, estão a predisposição genética, aspectos emocionais como o estresse crônico e a ansiedade patológica, alimentação inadequada, exposição a alérgenos, hábitos de vida e questões ambientais.

A pele é o maior órgão do corpo humano e, porque exerce uma função de proteção, pode sofrer com a influência de muitos fatores. Logo, fatores externos como o clima, substâncias tópicas, tecidos, bactérias, vírus, poluição ou traumas físicos incidem diretamente sobre a superfície cutânea, agravando quadros patológicos que se manifestam na pele.

Um exemplo é a dermatite atópica que se caracteriza por ser uma doença crônica inflamatória da pele caracterizada pela disfunção da barreira cutânea, quando a pele não consegue reter a hidratação, gerando o ressecamento, coceira e as lesões dermatológicas. Por essa razão, pacientes atópicos ficam extremamente sensíveis e vulneráveis a agentes externos como temperaturas extremas (frio ou calor), tecidos de roupas com texturas irritáveis, alimentos com conservantes, substâncias com cheiros muito fortes, entre outros.

Saiba como o estresse pode alterar a resposta imunológica da sua pele (Foto: Canva)

Saiba como o estresse pode alterar a resposta imunológica da sua pele (Foto: Canva)

O estresse pode alterar a função da barreira cutânea e imunológica da pele?

Para além das lesões ocasionadas na pele, os hormônios liberados em situações de estresse podem alterar — e até mesmo enfraquecer — a barreira cutânea da pele.

Diante de um evento estressor, o corpo ativa o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal através da liberação de hormônios do estresse: cortisol, adrenalina e noradrenalina. Quando esses hormônios são liberados em excesso e de forma ininterrupta, ou seja, o estresse na sua apresentação crônica, prejudicam a barreira cutânea de muitas formas como, por exemplo, causando o aumenta da perda transepidérmica dificultando que a pele retenha a hidratação, também retarda o processo de regeneração tecidual, além disso, o estresse crônico provoca o aumento de liberação de citocinas inflamatórias da pele.

Neste sentido, ao alterar a barreira de proteção da pele dessas três formas, o estresse crônico se apresenta como um dos fatores que contribuem para o agravamento de doenças de pele crônicas como é o caso da dermatite atópica, da psoríase, da acne e da urticária”.

Qual é a relação entre o sistema imunológico e as doenças de pele?

Da mesma maneira que o processo de adoecimento de muitas doenças é mediado pelo sistema imunológico, isso também acontece com o processo fisioquímico do estresse no corpo.

Quando ficamos diante de estressores, nosso corpo ativa a liberação de hormônios como o cortisol e a adrenalina que, em situações agudas e pontuais, são benéficos e protetivos para a nossa saúde física e mental. Contudo, quando o estresse se apresenta na forma crônica e ininterrupta causa desequilíbrio no sistema imunológico, provocando respostas inflamatórias exageradas e agravando doenças pré-existentes, como é o caso de muitas dermatoses (psoríase, dermatite atópica, acne). Ou, ainda, o sistema imunológico pode reagir ao estresse crônico suprimindo funções de defesa, conhecida como processo de imunossupressão, deixando o corpo e a pele mais vulneráveis diante de vírus e bactérias e, por isso, mais suscetível ao adoecimento ou agudização de quadros patológicos já em curso.

Quais tratamentos dermatológicos podem ajudar a controlar as doenças de pele causadas pelo estresse?

Existem tratamentos integrados e multiprofissionais com o objetivo de manejar os sintomas emocionais que agravam as doenças de pele e também tratar as lesões na pele que causam impactos emocionais no dia a dia do paciente.

O ideal é o paciente ser acompanhado por uma equipe multiprofissional composta por dermatologista, psiquiatra, psicólogo, nutricionista e educador físico se necessário. Assim, os profissionais de saúde podem discutir o caso e articular o cuidado integrado que contemple as necessidades em saúde daquele paciente.

Quais hábitos diários você recomenda para minimizar os efeitos do estresse na pele?

Alimentação saudável livre de ultraprocessados, atividade física regular, um ciclo de sono regulado, de qualidade e reparador, reservar momentos de lazer e de descanso, fortalecimento de vínculos afetivos e de apoio emocional da sua comunidade (amigos, família, religião e outros).

Para além do estresse, a alimentação e o estilo de vida do paciente também é capaz de influenciar diretamente na resposta imunológica do corpo ao estresse. Isso porque, segundo ela, a alimentação influencia diretamente na microbiota intestinal e na resposta inflamatória sistêmica.

Quando há uma desregulação intestinal pela ingestão de alimentos ultraprocessados, por exemplo, a resposta inflamatória do corpo se acentua agravando as condições de pele. Assim também ocorre com outros aspectos do estilo de vida, como é o caso do sono. A privação de sono ou um sono de baixa qualidade eleva os níveis de cortisol, hormônio do estresse, reduzindo a imunidade do corpo e prejudicando o processo de regeneração do tecido cutâneo. Contudo, o inverso também se mostra verdadeiro. Quando eu conquisto um sono reparador e de qualidade, uma alimentação rica em fibras e vitaminas, a prática regular de atividade física e o manejo eficiente do estresse, isso repercute de maneira positiva na saúde da pele e no aumento da imunidade, além de beneficiar a saúde mental.

O que você recomenda para quem está lidando com problemas de pele ocasionados pelo estresse e ansiedade?

Primeiro, é necessário compreender que nenhuma doença de pele é causada exclusivamente por fatores emocionais, visto se tratar de quadros multifatoriais. Essa compreensão é importante, inclusive, para que o paciente não se culpabilize pelo estado agravado da sua pele.

O fator emocional é um dentre inúmeros fatores que podem desencadear ou agravar quadros dermatológicos. Logo, é importante que o paciente se acolha e tenha uma posição compassiva consigo para que, assim, seja possível direcionar atitudes de autocuidado como uma boa alimentação, exercícios físicos regulares e a articulação da sua rede de apoio para, assim, conquistar uma recuperação mais breve, tanto da saúde da pele como do estado emocional abalado.

Já reparou?

A PROTESTE é a maior associação de defesa do consumidor da América Latina e, como parte de seu propósito, está sempre atenta às necessidades do mercado brasileiro. Recentemente, lançamos a campanha Já Reparou?, que visa garantir aos consumidores o Direito de Reparo de seus produtos eletrônicos de forma acessível. A iniciativa busca combater práticas de alguns fabricantes que limitam o reparo de aparelhos ao bloquear o uso de componentes que não sejam originais ou instalados por oficinas credenciadas.

Você pode participar dessa ação e colaborar com essa conquista – acesse o site jareparou.com.br, assine e garanta esse direito. Essa vitória, entre outras coisas, amplia a aquisição de peças e manuais, reduzindo o custo de consertos para o consumidor e incentivando a sustentabilidade.