Especialistas mostram como a adaptação para a chegada do bebê vai muito além do que acontece no útero
Além das mudanças físicas e hormonais, a gravidez também afeta o cérebro. De acordo com o estudo “The long and short term effects of motherhood on the brain”, publicado pela ScienceDirect, ocorre uma infinidade de alterações sem precedentes no corpo feminino e o cérebro é exposto a níveis crescentes de vários hormônios.
Tudo isso é “biologicamente calculado” para construir e fortalecer o vínculo entre mãe e filho, ainda no ventre. Contudo, apesar desse benefício, essas alterações cerebrais também podem resultar em maiores desafios, como oscilações de humor.
Saiba que, se, às vezes, você também não se reconhece durante a gestação, não está sozinha e isso tem explicação científica. Antes de tudo, vale sempre lembrar: faça um acompanhamento médico, realize os exames e converse com o especialista sobre os seus sintomas e dúvidas.
Se necessário, também procure acompanhamento psicológico. Isso não é “frescura”, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 20% das mulheres podem enfrentar transtornos mentais durante a gravidez e no período pós-parto.
Tatiane de Sá Manduca, psicóloga, psicanalista e escritora, especialista em Psicoterapia Psicodinâmica pelo HC FMUsp, comenta: “Na gravidez, a mulher atravessa mudanças de muitas ordens – biológicas, somáticas, psicológicas e sociais. São transformações que não se limitam ao corpo, mas alcançam a dinâmica psíquica individual e as relações ao redor. Nesse tempo, o corpo denuncia a nova condição”.
Estima-se que, anualmente, 208 milhões de gestações aconteçam no mundo. Os dados são de um artigo divulgado pela PubMed Central. O bem-estar delas é fundamental para garantir o bem-estar do bebê.
Quais mudanças acontecem no cérebro durante a gravidez?
A principal mudança substancial na estrutura cerebral durante a gravidez é a redução no volume da massa cinzenta (responsável pelas emoções, memória e o movimento), conforme apontou a pesquisa “Pregnancy leads to long-lasting changes in human brain structure”, publicada na Nature Neuroscience.
Essa alteração pode desencadear algumas questões, como maior distração, dificuldade de concentração e perda de memória de curto prazo. Além disso, a análise também concluiu que há um aumento na integridade microestrutural da substância branca, um movimento do corpo para fortalecer a conexão entre mãe e filho e preparar a mulher para a maternidade.
Evelin Costa Rocha, psicóloga infantil juvenil e Especialista em Neurociências, acrescenta: “O corpo da gestante envia sinais ao cérebro para que ele se adapte a essa nova fase, o que explica muitas mudanças emocionais. A amígdala, por exemplo, está ligada ao controle das emoções e à forma como lidamos com o estresse. Durante a gravidez, essa área ajuda a mulher a enfrentar melhor situações desafiadoras”.
Quais hormônios influenciam diretamente o comportamento e as emoções?
Há um aumento fundamental na produção de hormônios nesse período. Evelin acrescenta que as mudanças hormonais não afetam somente a mulher ao longo da gravidez, mas também no período pós-parto, quando o corpo e a mente ainda estão em adaptação.
A especialista em neurociência enfatiza que essas alterações são essenciais para o desenvolvimento fetal e manutenção da gravidez. “O Beta-HCG, além de ser o hormônio utilizado na confirmação da gestação, atua em conjunto com outros hormônios. O estrogênio e a progesterona favorecem o crescimento uterino e a sustentação da gravidez, enquanto a prolactina promove a preparação das mamas para a lactação. O TSH, por sua vez, regula a função tireoidiana e contribui diretamente para o desenvolvimento saudável do bebê”.
Ainda, Tatiane explica que “não é só o corpo que se transforma. A gestante precisa se adaptar a uma série de situações internas e externas, pessoais e relacionais”. E é nesse atravessamento que muitas vezes aparece a irritação.
Segundo Evelin, a gravidez pode aumentar o risco de ansiedade ou depressão, por conta da suscetibilidade hormonal do período (que também engloba o puerpério). Por isso, a especialista sugere estar atenta aos seguintes sinais: dificuldade em aceitar a gravidez acompanhada de comportamentos autolesivos, tristeza ou desânimo persistente, alterações no sono e no apetite, oscilações hormonais frequentes, ansiedade intensa, sentimentos de angústia e dificuldade de concentração.
Oscilações de humor são normais durante a gestação?
Entre os hormônios, a progesterona é a principal responsável por essa oscilação de humor. “Ela pode afetar a memória e a concentração, principalmente porque a mulher está mais exposta devido a privações de sono, alterações hormonais e de situações estressantes, o que pode deixar o humor mais instável”, afirma Evelin.
Por isso, se notá-la, não se assuste, é esperado. Mas, como já colocado aqui, converse com o seu médico e procure uma avaliação para garantir que tudo ocorra dentro do esperado.
Quais são os efeitos positivos das mudanças cerebrais para a mãe e o bebê?
Assim como as alterações da gestação podem causar incômodo e percalços, elas também desempenham um papel importante na preparação da mulher para desempenhar a maternidade e na construção do vínculo entre mãe e filho, mesmo antes do nascimento.

As mudanças cerebrais também permitem fortalecer o laço entre mãe e bebê antes do nascimento (Foto: Freepik).
“Gestar é também se tornar mais sensível. E essa sensibilidade que se acentua é preciosa para o encontro com o bebê, para o vínculo que começa a se constituir já no ventre”, justifica Tatiane.
Entre os benefícios das alterações, as especialistas mencionam o fortalecimento do desenvolvimento cognitivo da criança, facilitação da adaptação a uma nova rotina e aumento da resiliência materna.
É possível prevenir ou reduzir os impactos emocionais da gestação?
Uma vez que esses impactos são influenciados tanto pelo ambiente social ou emocional, intrínseco ou extrínseco, a reposta é sim, é possível. Tatiane destaca a importância da rede de apoio e participação do parceiro. “É importante incluí-lo nesse processo, não apenas como apoio, mas como parte viva dessa transformação que não toca só a mulher que se tornará mãe, mas toda a família”, diz.
Além disso, Evelin complementa com acompanhamento psicológico, prática de exercícios físicos/meditação, participação em grupos de apoio, manter a mente ocupada com atividades que tragam prazer e cuidado com a alimentação.
Para Tatiane, a maternidade é um momento de muitas alegrias, mas também muitos desafios: “A mãe não passa somente pela ternura e mansidão mas também por medos, solidão insegurança, culpa, raiva muitos outros afetos que fazem parte das múltiplas experiências emocionais que a chegada de um filho pode proporcionar”. Por isso, é importante respeitar seu tempo.
Já Evelin garante: “Estar grávida não é uma sentença. Não é o fim da liberdade, dos sonhos ou da identidade da mulher. É uma fase de transformação, cheia de desafios, sim, mas também de muito aprendizado e amor” e finaliza: “Com apoio, informação e acolhimento, é possível viver essa experiência de forma leve e consciente, do seu jeito”.
Colaborou: Yulia Serra.
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