Setembro Amarelo: por que cuidar da saúde mental é essencial na prevenção do suicídio
Anualmente, 16 mil brasileiros cometem suicídio; veja dados e onde pedir ajuda
Quando o calendário marca a entrada do mês de setembro, desde 2015, começamos a ver a cor amarela aparecendo em campanhas, sites e redes sociais. Isso porque, nesses últimos 9 anos, o mês se tornou um marco na prevenção e controle ao suicídio no Brasil, com o chamado Setembro Amarelo.
A data chega no intuito de alertar a população e relembrar a importância de pedir ajuda e como pedi-la. Nos últimos anos, depois da pandemia de covid-19, a campanha tem ganhado ainda mais relevância para a melhoria na saúde mental dos brasileiros.
Isso se torna especialmente verdade quando olhamos para os números. Segundo dados do relatório global e anual “Estado Mental do Mundo”, o Brasil tem o terceiro pior índice de saúde mental do planeta. Estima-se, conforme apresentado por um levantamento da consultoria Alvarez & Marsal, um crescimento anual de 12% a 15% nos últimos quatro anos em atendimentos de saúde no Brasil devido a transtornos mentais.
E não para por aí: no primeiro semestre de 2023, em comparação com o mesmo período de 2022, houve um aumento de 37% na aquisição de antidepressivos, segundo uma pesquisa da Vidalink em 250 empresas.
Quando falamos do suicídio, um tema muitas vezes tabu, que é o cerne da campanha de Setembro Amarelo, os números também não são favoráveis. De acordo com dados recentes fornecidos pela Agência Brasil, o país registra, em média, uma média de 38 suicídios por dia, o que equivale a cerca de 14.000 mortes anuais. O Fórum Brasileiro de Segurança Pública relatou que, em 2022, foram registrados 16.262 suicídios no país, o que dá uma média de 44 mortes diárias. Outros estudos indicam uma média de um suicídio a cada 40 minutos.
“Esses números são alarmantes, mas é importante destacar que eles estão subnotificados. A subnotificação sugere que a realidade pode ser ainda mais preocupante, com o número real sendo maior do que o registrado”, explica a psicóloga Camila Côrrea Matias Pereira, doutora, especialista em prevenção e posvenção ao suicídio, com mais de 14 anos de experiência na promoção da saúde mental e prevenção do suicídio.
Olhando para dentro e para fora
A campanha vem, anualmente, com uma lembrança importante: a de olhar para si e também ao seu redor, para identificar possíveis sinais de alerta de que você, ou outras pessoas, precisam de ajuda.
“É fundamental se educar sobre a temática, os fatores de risco, de proteção e sinais de alerta para saber onde procurar recursos e oferecer apoio à pessoa que está passando por sofrimento emocional”, explica Camila Côrrea.
Ela detalha que os fatores de riscos costumam estar associados a eventos e características negativas da vida. “Sua presença aumenta a probabilidade de problemas físicos, emocionais e sociais. Esses fatores tornam os indivíduos mais vulneráveis a situações adversas, mas o impacto deles varia de acordo com a intensidade, frequência e interpretação de cada um. Exemplos de fatores de risco incluem tentativas de suicídio anteriores, problemas de saúde mental, dependência de álcool ou drogas, impulsividade, problemas crônicos de saúde física, suicídio de alguém conhecido, isolamento e ausência de vínculos significativos”, completa.
A profissional explica que, além desses fatores, existem outras causas sociais que podem tornar o indivíduo mais propenso a ter questões da saúde mental que, quando elevadas ao máximo, podem causar um suicídio. “O suicídio é um fenômeno social, e, por isso, problemas sociais também estão diretamente ligados aos fatores de risco, como o desemprego, a instabilidade econômica, experiências de violência física ou sexual, e a vivência em comunidades violentas. As populações consideradas mais vulneráveis, de acordo com pesquisas, incluem os indígenas, as pessoas da comunidade LGBTQIAPN+, pessoas idosas, pessoas em situação de rua, pessoas em privação de liberdade e pessoas que fazem uso de álcool e outras drogas”, pontua.
De olho nos sinais
Além dos fatores de risco e das causa sociais que podem levar uma pessoa estar mais propensa a querer por um fim à própria vida, Camila Côrrea lista uma série de sintomas que podem ser um sinal de alerta de que você, ou alguém à sua volta, precisa de ajuda. São eles:
- Expressão de ideias ou de intenções suicidas,
- Desesperança,
- Isolamento,
- Mudanças de comportamento,
- Alteração no padrão do sono,
- Aumento do uso de drogas ou álcool,
- Diminuição ou ausência de autocuidado
Ela ressalta que não existe uma “receita” a se seguir, que indica que alguém precisa de ajuda ou está à beira de um suicídio. “No entanto, uma pessoa em sofrimento pode apresentar certos sinais que podem ser notados por familiares e amigos próximos, especialmente se vários desses sinais ocorrerem simultaneamente”, pontua.
Comunicação como base
A profissional ressalta a importância de não deslegitimar quando ouvir alguém clamando por ajuda, seja da forma que for.
“Toda comunicação e busca de ajuda devem ser sempre levadas a sério e validadas. É um erro pensar que uma pessoa que fala sobre suicídio não tentará o suicídio. Pelo contrário, na maioria das vezes, esta comunicação (verbal ou não verbal) é um pedido de socorro de uma pessoa em um sinal de profundo sofrimento”, explica.
Hoje em dia, existe uma série de canais para buscar ajuda e, mais do que nunca, este momento é pensado justamente em difundir este tipo de informação. Então, se estiver precisando de ajuda, ou notar que alguém a sua volta está nesta situação, não existe em entrar em contato com o Centro de Valorização da Vida, um órgão do governo completamente focado na prevenção do suicídio, que pode ser encontrado por meio do site ou do número 188.
Outras opções para pedir ajuda são:
- CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde);
- UPA 24H,
- SAMU 192,
- Pronto Socorro;
- Hospitais;
Muito além de setembro: a prevenção ao suicídio o ano inteiro
Campanhas de conscientização, como o Setembro Amarelo, são primordiais para nos lembrar anualmente de olhar para a saúde mental e difundir a informação de onde buscar ajuda. Vale ressaltar, no entanto, que este cuidado deve ser feito o ano todo.
“A continuidade da conscientização é essencial para manter o tema presente e reduzir estigmas, enquanto a constante oferta de apoio e recursos ajuda a garantir que as pessoas busquem ajuda quando necessário”, completa Camila Côrrea.