Como balancear o uso de streaming para não se prejudicar? Psicóloga responde

Como balancear o uso de streaming para não se prejudicar? Psicóloga responde

O streaming pode trazer diversos benefícios, mas o equilíbrio é essencial para evitar problemas comportamentais e de saúde mental

A internet trouxe para nós o conhecimento, a diversão, a liberdade e uma enorme gama de novos serviços. Entre eles, a capacidade de escolher o que assistir, onde e em que momento quiser – o streaming. O serviço cresce de forma exponencial no mercado de entretenimento. Crianças, adolescentes e adultos se veem cada vez mais conectados a uma história, um lugar que sonham e conhecer e, como se fossem reais, os personagens invadem seu mundo rapidamente e se tornam parte do seu dia a dia por horas, dias ou semanas, até a frustante “season finale”, quando você passa a ter uma sensação de perda pelo final da sua série favorita.

Contudo, numa efemeridade cada vez mais frequente, lá está outra série prontinha, fazendo que continuamente se apaixone e se frustre, e volte a se apaixonar, em um eterno ciclo de realização-frustração-realização.

“O check-list dos meus dois filhos, quando viajamos de carro, envolve verificar se se os filmes ou séries, que estão assistindo no momento, já tenham terminado seu download e assim se tranquilizam com o fato de que não ficarão ociosos durante o tempo da viagem”, conta Verônica Gonçalves, psicóloga clínica e institucional, psicopedagoga e especialista em neuropsicologia pela PUC – Rio.

Ele lembra de quando era mais nova, em uma realidade completamente diferente. “Minha série favorita era ‘Barrados no Baile’ e só passava uma vez na semana. Na estrada, o que eu fazia era curtir a passagem, contando quantas cassas de João de Barro via pela estrada. Essa era minha única diversão, e que linda”, relembra.

Hoje em dia, no entanto, com o acúmulo de opções – de streaming a redes sociais – as crianças vivem uma realidade cada vez mais ocupada, em que não sabem o que fazer quando estão ociosas.

Streaming e a falta do ócio

Verônica Gonçalves explica a importância que o ócio tem na nossa rotina, afinal, ele é um dos grandes responsáveis por desenvolver a capacidade criativa.

“Hoje, talvez ele esteja associado erradamente à solidão, o que pode gerar tristeza e ansiedade. Esses sentimentos podem potencializar a permanência de horas a fio dedicadas a uma série e, tentando fugir deles, pode-se perder também o controle, aumentando nossa propensão à assistir mais um episódio e depois outro e outro”, reflete a profissional.

Basta parar para pensar: se não você, quantas pessoas que conhece que já ficaram acordadas a madrugada inteira para maratonar uma série? A prática pode até ser gostosa, mas a psicóloga aponta que, nesse lugar da imaginada satisfação interna, e até fuga dos pensamentos e da realidade, crianças, jovens e adultos ficam imersos a esse “desligar” da sua realidade e emoções.

Como balancear o uso de streaming para não se prejudicar? Psicóloga responde

Como balancear o uso de streaming para não se prejudicar? Psicóloga responde (Imagem: Freepik)

A ficção pode parecer realidade

“Admirar personagens e compará-los como alguém que faça parte do seu dia a dia acontece porque nosso cérebro codifica todas as experiências, seja assistindo no streaming, TV ou ao vivo, lendo um livro ou imaginando, como memórias “reais”. Então, quando assistimos uma série, as áreas do cérebro ativadas são as mesmas de um evento ao vivo”, detalha.

Apesar de assistir esses conteúdos envolver diversão e, em alguns casos, até mesmo aprendizado, eles também podem trazer uma série de malefícios comportamentais, como ansiedade – por não conseguir desligar a série e cumprir outras taretas – até uma antissociabilidade, pois hoje muitos adolescentes preferem terminar de assistir à temporada de sua série favorita a ter que fazer um programa ao ar livre.

No streaming e na vida: o equilíbrio é tudo

Verônica Gonçalves ressalta que o streaming e as redes sociais têm seus benefícios e podem trazer muita diversão, mas, como tudo na vida, eles precisam ser utilizados com equilíbrio.

“Para ter esse equilíbrio eu sugiro que, independentemente da idade, você defina uma rotina para se manter disciplinado e um limite de tempo que passa nas plataformas. Uma forma de se organizar é utilizando o streaming para relaxar depois de concluir uma tarefa exaustiva ou após um dia extressante de trabalho ou de estudo, e não utilizar como uma forma de ‘fuga’ dos problemas”, orienta.

Assim, você passará a ter mais tempo ocioso para usar para praticar exercícios físicos, ficar com quem ama, ler livros e viver uma vida também fora das telas.

Helena Selegatto Leite

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Helena Selegatto Leite