Selo reef safe: tudo que você precisa saber
Na teoria, ele indica que um protetor solar é seguro para a vida marinha, mas é importante ficar atento ao rótulo para não se enganar
Você já ouviu falar do selo reef safe? Talvez já até tenha o visto por aí, sem conhecer seu nome. Basicamente, o selo está presente em alguns protetores solares e, na teoria, indica que eles são seguros para a vida marinha.
“O termo “reef safe” refere-se a produtos, especialmente protetores solares, que são considerados seguros para o ambiente marinho e para os recifes de coral. Produtos “reef safe”, geralmente, não contêm ingredientes químicos conhecidos por serem prejudiciais ao ambiente”, explica a responsável da Farmácia Universitária da Faculdade de Ciências Farmacêuticas Dra. Maria Aparecida Nicoletti da Universidade de São Paulo (FARMUSP), professora no Programa de Residência em Área Profissional da Saúde – Modalidade Uniprofissional da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, membro do Conselho de Curadores da Fundação Instituto de Pesquisas Farmacêuticas-FIPFARMA (2021-2023) e da Diretoria da Sociedade de Farmácia Clínica – Regional São Paulo.
Mas será que é realmente assim? Apesar da importância para a manutenção do meio ambiente no geral, é necessário se atentar que o selo ainda não foi regulamentado. Ou seja, as empresas podem usá-lo sem cumprir um padrão oficial.
Maria Aparecida explica que, justamente por isso, na hora de optar por um produto que tenha o selo reef safe, é de extrema importância checar os ingredientes indicados na embalagem, para garantir que ele, de fato, entrega o que promete.
No geral, ela aponta que produtos contendo os filtros solares oxibenzona e octinoxato são extremamente prejudiciais à vida dos corais. No entanto, devido à falta de regulamentação oficial a respeito do termo reef safe, não há um consenso em relação ao número de matérias-primas consideradas deletérias ao meio ambiente introduzidas no produto. “Além da xibenzona e octinoxato, a avobenzona, octisalato, octocrileno, homosalato também podem ser prejudiciais ao meio marinho”, detalha.
O que é o branqueamento dos corais
Para entender a influência negativa que alguns protetores solares podem ter sobre o ecossistema marinho, é preciso entender, primeiramente, o que é o branqueamento dos corais. “Ele ocorre quando o coral perde as algas fotossintetizantes, as zooxantelas, e torna-se visível observar o esqueleto de carbonato de cálcio do animal, que passa a apresentar coloração translúcida e, por essa razão, o termo “branqueamento””, explica a dra.
Muito além da perda da beleza natural que as cores dão aos corais, o efeito é altamente prejudicial. Isso porque, dependendo da duração do branqueamento ou ainda da intensidade da alteração ambiental que causou o problema, os corais podem morrer, gerando prejuízos ao homem. A morte dos corais afetam as comunidades de peixe – comprometendo a oferta de alimentos e, assim, a prática econômica e cultural da pesca. Além disso, são eles que protegem o litoral, impedindo a erosão da costa.
Além disso, o processo de branqueamento também pode tornar os corais mais suscetíveis a doenças, afetando a estabilidade do ecossistema. Esse processo está diretamente relacionado à falta de algas, o que, por sua vez, resulta em uma redução na taxa de calcificação do recife. Ou seja, essas mudanças também afetam diretamente os recifes, podendo levar à perda da biodiversidade daqueles locais.
Protetores solares e o branqueamento de corais
E onde o protetor solar entra em tudo isso? Basicamente, alguns ingredientes comuns nesses produtos podem causar ou acelerar esse processo de branqueamento.
“Diversos estudos científicos indicam que alguns ingredientes presentes em protetores solares comuns, especialmente alguns filtros químicos (orgânicos), podem contribuir para o branqueamento e a degradação dos corais, afetando seu metabolismo, causando estresse oxidativo, e interferindo na saúde das zooxantelas — as algas simbióticas essenciais para a sobrevivência dos corais”, explica a profissional.
Ela lista alguns ingredientes que, segundo a National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), podem causar esse branqueamento. São eles: Oxibenzona, Octinoxato, Octocrylene, Benzofenona-1, Benzofenona-8, OD-PABA, 4-metilbenzilideno cânfora e 3-benzilideno cânfora.
Como consumidor consciente, uma boa dica é, como já ressaltado pela profissional, olhar o rótulo. Como o termo reef safe ainda não é registrado, é a composição do produto que vai falar se ele é, de fato, saudável para a vida marinha. Comprar opções que não têm esses componentes, ou buscar por rótulos que apresentem-nos em menor quantidade já é fazer sua parte contra esse processo degradante da vida marinha.
O selo reef safe
Como descrito, atualmente, ainda não existe um padrão em relação a quantidades de ingredientes para dar ao protetor o selo de reef safe, apesar disso, algumas praias ao redor do mundo exigem que os banhistas usem apenas produtos com esse selo em seus oceanos. Esse é o caso de lugares como o Havaí, Key West, as Ilhas Virgens e alguns outros. Nestes locais, o uso de produtos com este selo é obrigatório por lei.
Maria Aparecida Nicoletti explica que, apesar de não ter padrões regulamentados, existem algumas regras que as marcas tendem a seguir para colocar o selo em suas embalagens. “Os produtos reef safe não devem conter, pelo menos, as matérias-primas oxibenzona, octinoxato, octocrileno, octosilato, avobenzona e homosalato”, reforça.
“Algumas organizações listam matérias-primas que são consideradas prejudiciais às barreiras de corais e fornecem certificação para produtos que os evitam. Algumas marcas aderem a certificações de terceiros que exigem a exclusão de ingredientes tóxicos para corais, ainda que não utilizem o termo “reef safe” (produtos com o selo EU Ecolabels representado pelo logo “flor da União Europeia” cumprem os critérios e ganharam o direito ao rótulo ecológico a União Europeia)”, completa, detalhando sobre os possíveis selos.
Ela ressalta, ainda, que os produtos reef safes também tendem a ser seguros para a pele humana. Afinal, para ser comercializado aqui no Brasil, esses produtos precisam passar pela autorização da ANVISA, que olha para os cuidados necessários com nossa saúde. Normalmente, em outros países, existem também órgãos reguladores que cuidam da garantia da saúde humana em produtos como esses.
De olho no rótulo!
Além da preocupação com o meio ambiente e os componentes que podem ser prejudiciais aos corais, existe uma série de informações importantes nos rótulos de protetores solares que você deve ficar de olho.
Maria Aparecida lista alguns itens importantes para observar: “O primeiro deles é o fator de proteção solar. Escolha um que seja capaz de garantir a proteção contra raios UVB, sendo o mínimo ideal para uso diário o FPS 30 e para exposição prolongada ao sol de seja a partir de FPS 50. Aqueles que são de amplo espectro apresentam proteção contra UVA e UVB. Os raios UVA são capazes de penetrar mais profundamente na pele e contribuem para o envelhecimento e aumenta o risco de câncer de pele”, explica.
“Outro aspecto é se o consumidor prefere produtos com filtros físicos (mais seguros para o meio ambiente, crianças e pessoas com pele sensível) ou químicos (controversos), com fórmula resistente ao suor e à água. Ele precisa conter a descrição de quanto tempo o protetor mantém sua efetividade, inclusive durante a exposição à água. Além disso, é importante que não apresentem em sua composição matérias-primas que sejam potencialmente irritantes para a pele e que sejam dermatologicamente testados (não em animais) e que tenham sido aprovados pelas agências reguladoras”, finaliza.