Slime: brincadeira feita sem supervisão tem alto risco

Slime: brincadeira feita sem supervisão tem alto risco

Febre entre as crianças brasileiras, slime pode causar até intoxicação severa; dermatologista orienta os pais sobre como agir no caso de problemas

Fazer slime virou uma febre entre as crianças brasileiras, influenciadas por youtubers famosos. No entanto, a brincadeira pode ser bastante arriscada, já que uma das substâncias utilizadas para fazer a substância gelatinosa é o ácido bórico (diluído em água). Em quantidades maiores, ele pode causar lesões e alergias na pele de crianças. Além disso, viralizou o depoimento de uma mãe dizendo que a filha foi internada em São Paulo por intensa brincadeira com slime. Para tirar todas as dúvidas e avaliar os eventuais riscos da brincadeira, conversamos com a dra. Tatiana Caruso, da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Leia abaixo a entrevista:

Você tem recebido muitos casos de problemas causados pela slime em crianças?

Tenho recebido no consultório alguns casos de crianças com dermatite de contato, depois de terem manipulado slime. Conversando com as mães, acabávamos chegando à conclusão que tinha a ver com o preparo da substância.

Como eram as lesões?

Geralmente lesões localizadas nas mãos, descamação, coceira, vermelhidão e dermatite (reação inflamatória na pele). Na população em geral, 20% das crianças têm dermatite atópica. Ou seja, a pele da criança não é íntegra, é sensibilizada. Quando entra em contato com substâncias mais agressivas, como água boricada ou componentes como espuma de barbear, isso leva ainda mais a uma pele que já não é íntegra a apresentar essas inflamações.

Uma vez que for identificada esses sintomas, o que fazer?

Uma vez identificado o contato da pele com as substâncias, deve-se lavar as mãos e braços em água corrente com sabonete líquido neutro, evitando sabonetes anti-bactericidas. No caso de haver uma dermatite, a recomendação é levar ao dermatologista. O tratamento consiste em pomadas com corticóides. Além disso, orientamos mães e pais a não deixarem seus filhos entrar em contato com a substância nesse período.

Além de problemas na pele, há outros riscos?

No caso de ingestão acidental ou contato com os olhos, há o risco de uma intoxicação pelo acúmulo de acido bórico no organismo, que pode ser bem grave. Essa intoxicação pode gerar náuses, vômitos, diarreia e, em caso mais grave, até mesmo uma hemorragia. Outros riscos são queimadura de mucosas e olhos.

Qual a orientação que você dá para os pais?

Primeiramente, sempre supervisionar a brincadeira dos filhos. Até para a criança não usar uma quantidade grande dessa água boricada. Além disso, deve-se fazer a brincadeira em local bem arejado para evitar uma inalação excessiva. Deve-se também limitar o tempo da brincadeira a no máximo 30, 40 minutos. Outra recomendação é não guardar a substância gelatinosa por mais de 24 h, porque pode haver uma contaminação por bactérias. Aí gera um outro tipo de problema.

Se houver ingestão ou contato acidental dos olhos, o que fazer?

Se cair no olho, lavar com água corrente. A água boricada é ácido bórico na proporção de 3% na água. Portanto, a água boricada vendida na farmácia, é considerada teoricamente segura se usada em pequenas quantidades. Mas se for uma grande quantidade, o risco é grande. Aí deve-se levar ao pronto-socorro e deixar a criança em observação.

Usar luva é recomendável?

Sim, é uma ótima opção. Mesmo assim, deve-se lavar as mãos sempre que acabar a brincadeira. E manter a pele hidratada.

Tem receita segura para slime?

A água boricada é o que faz a substância ficar gelatinosa. Portanto, haverá sempre um risco. O mais seguro é comprar o slime pronto na loja. De qualquer forma, sempre deve-se verificar o rótulo para saber se tem a presença da substância Boráx. Se tiver, não comprar.

Qual é a idade a partir da qual é mais seguro fazer a slime?

Crianças abaixo de 5 a 6 anos não devem fazer a brincadeira. Pois elas têm uma pele mais delicada. Também pelo fato de elas terem menos maturidade para manipular esse tipo de substância. Reforçando que sempre deve haver a supervisão de um adulto.