Dia do Livro Infantil: como incentivar a leitura desde cedo e quais os benefícios?

Dia do Livro Infantil: como incentivar a leitura desde cedo e quais os benefícios?

É comprovado que o costume de ler ajuda crianças a se expressarem melhor e raciocinar desde pequenas

Ler não é necessário apenas para se comunicar, mas um grande exercício cognitivo. A constante adesão dos pais aos tablets e smartphones para entreter os pequenos pode ser uma opção prática, mas, se não usada com sabedoria, pode trazer danos sérios para a capacidade de raciocínio das crianças no futuro. 

Para relembrar o quanto é importante exercer a leitura – seja de forma didática ou de lazer – é comemorado no dia 18 de abril o Dia do Livro Infantil. Hoje, as opções para entreter as crianças e ensiná-las a ter esse hábito são muito mais simples de se conseguir, pois o valor dos livros têm se tornado mais acessível pela difusão dos ebooks, os livros digitais. Este facilitador, junto com o download de PDFs, possibilita encontrar diversos títulos e tê-los com apenas um clique.

Uma pesquisa realizada em 2023 pela Two Sides em mais de 16 países mostra que, no Brasil, apenas 29% dos entrevistados preferem ler em dispositivos eletrônicos. Isso acontece porque o livro físico causa menos distrações, tem uma estética agradável numa estante em casa, além do compartilhamento físico. 

Preguiça: a maior inimiga da leitura e desenvolvimento

Mesmo assim, a venda de livros físicos continua concorrendo lado a lado com os ebooks, apesar de que com o avanço tecnológico, cada vez menos pessoas têm o costume de ler. As telas não são as únicas culpadas por isso, mas têm grande parcela na falta de interesse dos jovens pelos livros. De acordo com o neurocientista Michel Desmurget, pela primeira vez na história a geração mais nova tem o QI menor do que o dos pais – afirmou em entrevista à BBC.

Segundo Michel, não há como provar que 100% dos casos de diminuição do QI tenha a ver com os aparelhos eletrônicos no geral, mas foi observado que na medida em que a utilização de tablets, smartphones e videogames aumenta, o desenvolvimento cognitivo diminui. 

Livros digitais X Crianças 

O interesse de crianças pequenas pelos livros começa não pelo conteúdo escrito, mas pelo visual. Esse é um ponto muito importante que os livros físicos tem a seu favor, imagens coloridas, pop-ups e alguns até contam com botões musicais. Mas isso afeta o preço e, muitas vezes, a possibilidade dos pais adquirirem.

Já os ebooks são práticos para carregar na bolsa – podendo ser lidos até em um celular -, estão a um clique de distância e também podem ser interativos, mas não chegam a chamar tanta atenção quanto o tátil dos livros físicos. Ou seja: é preciso pesar entre conforto, praticidade, preço e tempo disponível para criar memórias boas de leitura com uma criança. 

Raciocínio e leitura andam juntos

Incentivar uma criança a ler não é só trazer um hobby para dentro de casa, mas garantir que ela tenha um desenvolvimento cognitivo saudável. A prática não só ajuda a compreender melhor textos, mas as pessoas a sua volta e solucionar problemas de forma independente. 

Em entrevista à ABRINQ, Glaucia Piva, psicopedagoga, formadora de professores e docente nos cursos de pós-graduação da Universidade Anhembi Morumbi, explica a importância da leitura para crianças em fase de alfabetização. “Acessar o universo das histórias ativa a imaginação, amplia o repertório de mundo e cria condições favoráveis para as crianças lidarem com situações cotidianas sob diferentes perspectivas. É pela linguagem que elas se conectam com o mundo e é por meio das histórias que expressam as descobertas e os aprendizados, construindo a identidade e a memória. A literatura estimula muito o desenvolvimento dos pequenos”.

Um exemplo desse desenvolvimento é que, muitas vezes, as crianças se sentem angustiadas por não conseguirem expor o que estão sentindo, mas, quando começam a ler, conseguem elaborar a dúvida, se identificam com o personagem e fazem conexões propiciadas pela própria trama, contou Glaucia. 

Papel da escola e família no incentivo à leitura

A escola tem o papel fundamental em perpetuar o hábito de leitura nas crianças, mas a família desempenha a posição de incentivar os pequenos a se interessarem por livros e procurarem saber mais sobre eles. “Enquanto a escola cumpre uma função mais intencional e pedagógica, a família promove uma leitura mais emocional”, continua a profissional.  

“O papel da escola é de garantir algumas competências. De fazer, por meio da leitura, a criança exercitar a curiosidade intelectual. A escola precisa procurar livros que instiguem nas crianças esse comportamento mais investigativo, a reflexão apurada. Ela precisa ter essa preocupação e o professor precisa ficar atento se o livro é premiado e tem uma boa referência”, afirma.

Por outro lado, a família precisa cuidar daquela leitura sem intenção puramente intelectual, mas que promove a aproximação entre os familiares. Ela pode escolher um livro não tão conhecido, mas que forme esse paralelo entre ficção e o momento atual da vida do jovem. 

“Às vezes os pais não têm um repertório tão vasto, mas possuem um repertório que é deles, da infância deles. Então se eles escolheram ler aquele livro é porque aquela história de alguma forma fez muito sentido para eles naquela ocasião. É natural que repliquem a leitura e a façam trazendo muita memória afetiva. Isso precisa ser valorizado. A família não precisa ter essa obrigação técnica na escolha dos livros dos filhos, mas precisa gostar da leitura e ter o desejo profundo de inserir os filhos nesse gosto”, finaliza Glaucia.