É preciso garantir que o melhor azeite chegue ao consumidor

É preciso garantir que o melhor azeite chegue ao consumidor

A coordenadora do Centro de Competência de Alimentação e Saúde da PROTESTE, Pryscilla Casagrande, fala da importância de se consumir um azeite de qualidade

O azeite é um produto muito apreciado na culinária brasileira, além de fazer bem à saúde. Por isso, é importante assegurar a sua qualidade, para garantir que o consumidor esteja adquirindo o melhor produto possível e se beneficie das suas propriedades. E a PROTESTE está desde 2002 nesta luta.

Para falar do assunto, conversamos com a coordenadora do Centro de Competência de Alimentação e Saúde da PROTESTE, a Engenheira de Alimentos Pryscilla Casagrande, que está à frente da importante tarefa de testar e assegurar para o consumidor a qualidade dos principais azeites do mercado. “O consumidor que está consumindo outros óleos ao invés de azeite não está se beneficiando das suas importantes propriedades”, afirma. Leia na íntegra a entrevista.

Como a PROTESTE assegura a independência e qualidade dos testes de azeite realizados anualmente?

A PROTESTE adota medidas que garantam que os consumidores consumam um produto de qualidade. Primeiramente, compramos os produtos de forma anônima e independente, ou seja, não aceitamos nenhum tipo de amostras grátis de fabricantes, para assegurar a nossa independência. Além disso, os laboratórios que realizam as análises são acreditados pelo Ministério da Agricultura (Mapa) e pelo Conselho Oleícola Internacional (COI) e para manter a independência dos testes, não revelamos seus nomes. Os testes são baseados nas normas nacionais, especialmente na Instrução Normativa n°1 de 2012 do Mapa.

Quais são os parâmetros mais importantes testados? 

Teoricamente todos os parâmetros informados na legislação são bem importantes para avaliarmos a qualidade do produto final, porém cada um deles nos fornece uma resposta específica. Por exemplo, na rotulagem verificamos se os rótulos contêm todas as informações exigidas pela legislação. No quesito qualidade, medimos a presença de umidade, impurezas, avaliamos a quantidade de ceras – ésteres presentes na pele das azeitonas que indicam que um azeite é verdadeiro – além da análise sensorial, que é realizada por três painéis sensoriais reconhecidos pelo COI e a classificação do produto considera a unanimidade de avaliação de todos os painéis. Essa análise é uma ferramenta fundamental na determinação da classificação do azeite de oliva em: extravirgem, virgem ou lampante. Nesta análise, o produto não pode apresentar nenhum defeito como borra ou lodo, mofo, terra, ranço, gosto metálico, entre outros. Esses defeitos podem estar relacionados às falhas no momento da colheita das azeitonas e/ou à forma de conservação do azeite. 


A acidez geralmente é o aspecto mais comentado sobre os azeites, ela é a mais importante?

A acidez está relacionada à qualidade do produto, porém não pode ser analisada sozinha, pois é apenas um dos parâmetros químicos que classifica comercialmente o produto. Um azeite pode ter o nível de acidez em 0,1 ou menos e, no entanto, ter um índice de peróxido altíssimo, por exemplo. Sendo assim, ele pode estar rançoso, porém com a acidez baixa. Portanto, a escolha do produto não deve ser baseada apenas nesse parâmetro.  Além disso, a variação da acidez é imperceptível ao paladar.

Nesses anos todos que a PROTESTE faz os testes com azeites, quais foram as irregularidades mais encontradas?

Normalmente as irregularidades encontradas são referentes à “desclassificação” do produto, quando há indícios de fraude, através da adição de outros óleos vegetais e por isso não podem ser considerados como azeites de oliva extravirgem, ou os produtos estarem “fora de tipo”, quando são classificados como virgens, por exemplo, através das análises físico-químicas e/ou sensoriais.

Como foi a evolução dos testes? 

A PROTESTE realiza testes com azeites desde 2002, até 2019 já foram nove testes concluídos. Temos percebido uma evolução positiva na qualidade dos produtos, por outro lado aumentou consideravelmente o número de produtos/ marcas no mercado, inclusive as brasileiras, que têm crescido gradativamente sua representatividade e principalmente a qualidade dos seus produtos.

A qualidade dos azeites piorou ou melhorou nesse período?

Por exemplo, em 2002 testamos 15 marcas e 5 apresentaram indícios de fraude, onze anos depois testamos 19 e 4 apresentaram este problema, agora em 2019 testamos 49 marcas e 5 mostraram resultados de indícios de fraude, então percentualmente falando, observamos uma tendência de redução na quantidade de produtos disponíveis no mercado e que apresentam indícios de fraude. Isso é muito positivo para os consumidores.

Houve casos de marcas que se adequaram e nunca mais apresentaram irregularidades?

Temos diferentes casos para contar, como produtos que apresentaram indícios de fraude e não estão mais no mercado, outros que mudaram seus fornecedores após os nossos resultados, outros casos de produtos que apresentam resultados recorrentes, ano após ano, de indícios de fraude, porém que permanecem no mercado. Mas, existe também um caso positivo e interessante do produto “Cocinero” que em 2007 apresentou indício de fraude no nosso teste, porém em todos os testes seguintes foi bem avaliado e não apresentou mais essa irregularidade, inclusive no teste de 2016 ele foi eleito o “Melhor do teste” e em Novembro/2017 ele foi eleito “Escolha Certa”.

Qual é a importância desses resultados para os consumidores?

Esse é um movimento interessante e importante das empresas em perceber a importância do trabalho da PROTESTE, de modo que os resultados podem ajudá-las a melhorar a qualidade dos seus produtos, e todos ganham com isso!


Quantos azeites já foram retirados do mercado pelas iniciativas da PROTESTE e qual a importância dessa retirada?

No teste de 2018, após os resultados que identificaram indícios de fraude, a PROTESTE entrou com sete ações na Justiça e obteve sete liminares favoráveis para que os lotes dos produtos fossem retirados do mercado. Até o momento, duas empresas foram condenadas a recolherem os lotes do mercado e à indenização por danos morais coletivos. Em 2019 não fizemos diferente, a PROTESTE ingressou com cinco ações judiciais contra as empresas responsáveis pelos azeites fraudados com o objetivo de retirar os lotes do mercado. Ganhar essas liminares na Justiça protege os consumidores de não comprarem produtos fraudados e garante que os azeites disponíveis no mercado são de qualidade, além de fortalecer a PROTESTE como entidade de defesa dos consumidores.

Como a PROTESTE procede depois que identifica irregularidades nos azeites?

Nós buscamos solucionar o problema dos consumidores do início ao fim, ou seja, informamos a eles os resultados obtidos e ainda entramos na justiça solicitando que as marcas dos lotes fraudados retirem seus produtos do mercado.

E como é a atuação na Justiça?

No último teste (dezembro/2019) identificamos cinco lotes de marcas fraudados e ingressamos com as ações judiciais para que as empresas sejam responsabilizadas. Além disso, encaminhamos os resultados do teste para a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Mapa, CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), SENACON (Secretaria Nacional do Consumidor) e OLIVA (Associação Brasileira de Produtos, Importadores e Comerciantes de Azeite de Oliveira), para que os órgãos tenham conhecimento dos resultados e, quando possível, tomem providências cabíveis.

Quais problemas de saúde pode causar o consumo de azeite fraudados?

A substituição de um óleo comestível por outro de qualquer origem, por exemplo um óleo mineral, mesmo que em baixa porcentagem, pode trazer sérios problemas de saúde, principalmente para os rins, fígado, e ainda pior para o coração e para o sistema nervoso central que pode provocar convulsão.

O que o consumidor perde ao consumir um azeite fraudado?

O azeite é composto por mais de 30 tipos de polifenóis conhecidos como antioxidantes, além de vitamina E e caroteno, ele também tem se destacado como alimento funcional por ser uma excelente fonte de ácidos graxos monoinsaturados, é considerado uma gordura boa. Por isso, tem sido sugerido e recomendado no tratamento nutricional de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), doenças do sistema imune, cardiovasculares, entre outras, devido à possível redução da incidência dessas patologias relacionadas ao estresse oxidativo. O consumidor que está consumindo outros óleos ao invés de azeite não está se beneficiando das suas importantes propriedades.


Quais são as diferenças entre azeites virgens, extravirgens e lampantes e por que elas importam para o consumidor?

O azeite extravirgem é aquele obtido através da prensagem à frio das azeitonas, sendo o mais saudável dos azeites. Como não é refinado mantém seus nutrientes benéficos integralmente. O azeite virgem é obtido também a partir da azeitona, mas emprega processos físicos/mecânicos. É um azeite de boa qualidade, mas pode apresentar diferença no cheiro e sabor quando em comparação ao extravirgem. Já o azeite lampante não é recomendado para consumo humano pela sua intensa acidez. Para ser comercializado deve ser submetido à refinação (neutralização, descoloração e desodorização). 

+Leia também: Diferença entre o azeite de oliva e outros óleos vegetais

Como escolher o azeite?

Alguns cuidados são importantes na hora de escolher o seu azeite. Por exemplo, ler o rótulo; escolher um azeite que tenha sido produzido/envasado há no máximo seis meses; dar preferência às garrafas que estão mais ao fundo da prateleira, etc. No caso de azeites importados, é obrigatório que contenham informações do local de produção e de envase e melhor ainda se forem produzidos e envasados no mesmo local. É importante também não escolher azeites turvos, pois isso pode ser resultado de um menor grau de filtragem (qualidade) do produto; optar por embalagens menores e acompanhar os testes da PROTESTE no nosso comparador.